Brasil retoma parceria para lançar satélites
Brasília - O Brasil resolveu investir na empresa Alcântara Cyclone Space, criada com a Ucrânia para lançar satélites comerciais a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (MA).
O governo deve liberar no mês que vem R$ 50 milhões para a capitalização da empresa. A Agência Espacial Brasileira (AEB) já pediu mais R$ 111 milhões para este ano.
A verba havia sido sustada pelo Brasil no início do ano. Como a Ucrânia, arrasada pela crise econômica, ainda não dera contrapartida no capital da empresa, o país condicionou novos pagamentos a um aporte do sócio europeu.
E o aporte foi anunciado: até o dia 10 de outubro, o governo ucraniano prometeu injetar US$ 180 milhões (R$ 320 milhões) na ACS. "Isso vira o jogo", disse o presidente da AEB, Marco Antonio Raupp.
O objetivo inicial da agência de lançar um foguete ucraniano Cyclone-4 em 2012 não será atingido. Raupp diz que o lançamento inaugural pode ser feito em 2013. “É só uma questão financeira”, afirmou.
O Brasil já pôs R$ 219 milhões na empreitada, que tem custo estimado em R$ 1 bilhão para criar um sítio de lançamento do Cyclone dentro da base de Alcântara.
Além de dinheiro, a ACS vai ganhar um diretor. O ministro Aloizio Mercadante (Ciência, Tecnologia e Inovação) nomeou para a parte brasileira da empresa o brigadeiro Reginaldo dos Santos, reitor do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica).
Mercadante justificou a escolha pelo perfil técnico do brigadeiro. "É o aluno que teve as melhores notas na história do ITA”, afirmou. Mas o convite sinaliza sobretudo uma aproximação com a Aeronáutica, que nunca engoliu a ACS.
Competição - Os militares veem no projeto com a Ucrânia uma dupla intromissão: primeiro, o Cyclone competia com o programa VLS, da Aeronáutica, para produzir um lançador de satélites nacional.
A ACS foi criada pelo ex-ministro da Ciência e Tecnologia Roberto Amaral, vice-presidente do PSB. Como o ministério esteve nas mãos do partido durante o governo Lula, Amaral -que dirigiu a parte brasileira até ser demitido por Mercadante, em março- trabalhou para direcionar o programa espacial em favor da empresa.
A segunda intromissão foi ver o sítio de lançamento do Cyclone ser construído na base de Alcântara, depois que a ACS perdeu a disputa com quilombolas para erguê-lo em uma área vizinha à base.
A ACS também enfrenta oposição do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que quer ver o gasto com a empresa aplicado em seu programa de satélites.
Seu diretor, Gilberto Câmara, diz que a empresa não terá sucesso no mercado de lançamentos de satélite, porque o Brasil não tem um acordo de proteção de tecnologia com os EUA. Quase todos os satélites têm peças americanas e não podem ser lançados de países sem o acordo.
A volta da ACS foi um dos motivos que levaram Câmara a pedir para sair do cargo no fim de 2011, dois anos antes do fim de seu mandato.
Centro - O CLA é a base mais próxima da linha do Equador já construída, o que permite aos foguetes lançados o uso de menos combustível para entrar em órbita e o transporte de cargas maiores, já que contam com as forças centrífugas da Terra.
Em 2003, um acidente em Alcântara matou 21 pessoas e destruiu o Veículo Lançador de Satélites (VLS) três dias antes do programado para seu lançamento.
A tragédia foi provocada pela ignição prematura de um dos motores do foguete que deveria colocar dois satélites em órbita.
FONTE: JORNAL O ESTADO, ED 17941, O PAÍS