Celpa tem pior margem operacional

02-03-2012 10:10

Por Fernando Torres | De São Paulo

Entre as distribuidoras de energia dos Estados do Pará, Maranhão, Ceará, Mato Grosso, Pernambuco e Bahia, a Celpa é, com folga, a de pior desempenho no quesito margem operacional. Em termos de inadimplência, ela apresenta o segundo resultado mais crítico, com mais de 65% das contas em atraso. A comparação foi feita com empresas regionalmente próximas, que possuem capital aberto e que têm sócios do setor privado entre os controladores.

A distribuidora do Pará entrou com pedido de recuperação judicial na terça-feira, alegando problemas com multas impostas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o consequente aumento do endividamento.

De fato, o pagamento de juros sobre as dívidas e de multas regulatórias consumiu todo o lucro operacional gerado pela companhias nos últimos trimestres.

Mas mesmo sem considerar esses gastos, a Celpa mostra desempenho fraco quando comparado ao das empresas que atuam em Estados próximos.

A margem operacional esteve próxima de 10% do início de 2010 até o terceiro trimestre de 2011, último número disponível. Esse resultado mostra o percentual que sobra da receita após descontados os custos com compra de energia e as despesas com vendas e administrativas. De cada R$ 100 de receita, sobram apenas R$ 10 para pagar juros dos empréstimos, multas da Aneel, Imposto de Renda etc.

Esse é o pior índice entre sete empresas observadas - Celpa (Pará), Cemat (Mato Grosso), Coelba (Bahia), Celpe (Pernambuco), Cosern (Rio Grande do Norte), Coelce (Ceará) e Cemar (Maranhão). Na média, esse grupo de companhias teve margem operacional entre 25% e 22% desde o começo de 2010 até o terceiro trimestre de 2011.

Os melhor resultado foi o da Cemar, controlada pela Equatorial Energia, que tem como controlador o Fundo PCP, dos antigos sócios no Pactual Andre Esteves e Gilberto Sayão. A margem média ficou pouco abaixo de 28%.

Coelba, Cosern e Celpe são controladas pela Neoenergia, que tem como sócios a espanhola Iberdrola, o Banco do Brasil e a Previ, fundo de pensão dos funcionários do BB. Das três, a distribuidora da Bahia é a que apresentou melhor margem média no período, de 26%. O resultado é melhor no Estado por conta da escala da operação, segundo o Valor apurou.

A Coelce tem como controladora a espanhola Endesa, que no Brasil também é dona da Ampla Energia, que atua no interior do Estado do Rio. A margem média foi de 23% desde o início de 2010.

Já a Cemat, assim como a Celpa, é controlada pela Rede Energia, que tem como controlador o empresário Jorge Queiroz de Moraes Junior. A margem da Cemat foi a segunda pior da amostra no período, de 15%.

Em nota por e-mail, a Celpa disse que "os furtos de energia lamentavelmente existem e prejudicam, muitas vezes, o fornecimento de energia elétrica aos seus clientes, além de reduzirem a margem da companhia". Em 2011, de acordo com a Celpa, as perdas totais somaram 33,2%, sendo aproximadamente 19% de furto de energia. A empresa disse ainda que tem um programa para reduzir as perdas.

Um dos pontos críticos que a Celpa enfrenta é a inadimplência de seus clientes. De cada R$ 100 que ela havia faturado, R$ 65 estavam atrasados ao fim de setembro de 2011. Os atrasos acima de 90 dias chegaram a 45% da carteira. Na Cemar, que é a melhora das sete nesse quesito, o índice de atrasos total é de 35%, e a parcela vencida há mais de 90 dias, de 11%.

A Cosern é a única que tem inadimplência maior que a da Celpa, de 72% no total e de 62% acima de 90 dias. Mas o cliente que mais atrasa os pagamentos no Rio Grande do Norte é o próprio governo estadual, enquanto na empresa do Pará os atrasos se distribuem principalmente entre clientes residenciais, comerciais e industriais.

As empresas de energia vêm sofrendo com a alta da inadimplência, motivada principalmente por mudanças legais. Uma delas é a alteração do critério para concessão de subsídio para famílias de baixa renda. O corte anterior era feito com base no consumo mensal. Agora é preciso estar cadastrado no sistema usado para pagamento do Bolsa Família. Como muitos consumidores não estão cadastrados, eles perderam o subsídio, o valor da conta disparou e eles acabaram atrasando os pagamentos.

Essa mudança veio em conjunto com outra, que dificulta o corte de energia. Quando o cliente atrasa a conta, a distribuidora tem duas janelas de dez dias para fazer o corte. Uma cerca de 30 dias após a primeira notificação, e outra depois de 90 dias, quando é enviado o segundo aviso de inadimplência. Se o corte não for feito nessas datas, ele não pode mais ser realizado.

Em regiões de difícil acesso, as empresas nem sempre conseguem cumprir esses prazos.

O Valor observou, nas notas explicativas do balanço, que a Celpa tem R$ 7,5 milhões aplicados em títulos de capitalização, produtos que os especialistas recomendam apenas como uma alternativa à loteria para clientes pessoa física que gostam de sorteios.  (Fonte: Valor Econômico)

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