Chefe do IBGE faz avaliação sobre resultado do censo no Maranhão

06-02-2011 17:25

Entrevista Exclusiva

Por Waldemar Terr (Repórter de Política) / wter@uol.com.br - wter.blog.uol.com.br

O chefe da unidade do IBGE no Maranhão, economista Marcelo Virgínio de Melo, faz avaliação mais profunda sobre os números apresentados, no final do ano passado, pelo órgão em relação ao censo demográfico no Estado. De acordo com o economista, a população do Maranhão apresentou a maior taxa de crescimento demográfico do Nordeste, 16,25 por cento entre 2000 e 2010.

“O Nordeste teve, por sua vez, um crescimento de apenas 11,18 por cento. A taxa de crescimento geométrico anual da população maranhense entre os dois últimos censos foi de 1,52 por cento, a maior do Nordeste. Entretanto, o Maranhão segue a tendência nordestina de taxas mais estáveis de crescimento, em relação às apresentadas nas últimas décadas”, garante.

Segundo o chefe estadual do IBGE, o órgão está realizando agora a Pesquisa de Avaliação da Cobertura da Coleta do Censo – PA. “Esta é uma pesquisa por amostra, realizada em setores censitários selecionados, com a finalidade de avaliar a cobertura da coleta do Censo Demográfico 2010. No que diz respeito à divulgação das informações, serão realizadas tabulações específicas para publicação de várias estatísticas derivadas, ao longo do ano de 2011. Podemos destacar a publicação, já em abril, das características da população, dos domicílios e entorno. Em Julho divulgaremos a malha se setores censitários digital do Brasil e disponibilizaremos, na internet, os mapas municipais estatísticos atualizados em PDF. Ao longo do segundo semestre serão divulgados os demais resultados do universo e, em 2012, os resultados da amostra”, conta.

A seguir, a entrevista detalhada.

Jornal Pequeno – Qual a avaliação geral do resultado do novo Censo Demográfico?

Marcelo Virgínio de Melo – O Censo 2010 foi um grande sucesso. Em quatro meses de coleta, visitamos 57 milhões de domicílios, contabilizando 190.732.694 de brasileiros. No Maranhão, no mesmo período de tempo e, contando com o apoio de quase 6.500 servidores, responsáveis pela coleta, supervisão e revisão dos dados, visitamos 1.890.592 domicílios contabilizando 6.569.683 pessoas. Resultados tão grandiosos obtidos em tão curto espaço de tempo só puderam ser alcançados seguindo um rigoroso planejamento que vislumbrava treinamento em massa para a uniformização dos trabalhos, supervisão eficiente da coleta, controle de qualidade contínuo obtido com o auxílio de softwares que permitiam o acompanhamento das etapas indicando, inclusive, prováveis inconsistências e falhas de cobertura em tempo hábil e, por fim, mas não menos importante, através da promoção, por iniciativa do IBGE, da transparência na apresentação e nas discussões das grandes etapas do Censo à comunidade local, por meio das Comissões Municipais de Geografia e Estatística (CMGEs), da Comissão Censitária Estadual e da divulgação dos resultados diários da coleta na internet.

JP – A população do Maranhão caminha em que direção?

MVM – A população do Maranhão apresentou a maior taxa de crescimento demográfico do Nordeste, 16,25% entre 2000 e 2010. O Nordeste teve, por sua vez, um crescimento de apenas 11,18%. A taxa de crescimento geométrico anual da população maranhense entre os dois últimos censos foi de 1,52%, a maior do Nordeste. Entretanto, o Maranhão segue a tendência nordestina de taxas mais estáveis de crescimento, em relação às apresentadas nas últimas décadas.

JP – Quais tipos de trabalho que o IBGE ainda precisará fazer em cima dos números coletados?

MVM – Atualmente, estamos realizando a Pesquisa de Avaliação da Cobertura da Coleta do Censo – PA. Esta é uma pesquisa por amostra, realizada em setores censitários selecionados, com a finalidade de avaliar a cobertura da coleta do Censo Demográfico 2010. No que diz respeito à divulgação das informações, serão realizadas tabulações específicas para publicação de várias estatísticas derivadas, ao longo do ano de 2011. Podemos destacar a publicação, já em abril, das características da população, dos domicílios e entorno. Em Julho divulgaremos a malha se setores censitários digital do Brasil e disponibilizaremos, na internet, os mapas municipais estatísticos atualizados em PDF. Ao longo do segundo semestre serão divulgados os demais resultados do universo e, em 2012, os resultados da amostra.

JP – Alguns municípios perderam população. Qual o motivo?

MVM – Embora o Censo 2010 tenha mostrado uma redução do ritmo de saída da população nordestina e maranhense para outras regiões do país, este foi um fenômeno identificado apenas nos centros regionais e nas capitais. No interior, as taxas de crescimento de vários municípios foram baixíssimas, ou mesmo negativas devido, além da queda histórica nas taxas de fecundidade, à estagnação econômica e à falta de oportunidades de emprego para a população. Sabemos que existe uma correlação positiva entre dinamismo da economia e crescimento populacional. Como a queda nas taxas de fecundidade é um fenômeno nacional, o crescimento da população em alguns municípios do Estado explica-se pelo fluxo migratório de locais estagnados economicamente para centros dinâmicos. Daí, o crescimento da população de alguns municípios do Estado ser explicado pela redução da população dos demais. Nesse aspecto, o caso de Estreito é simbólico: o projeto hidrelétrico ali em construção tem atraído a população da região para seu entorno.

JP – São Luís, porém, chegou a um milhão de habitantes. Muda alguma coisa?

MVM — Na verdade, a capital maranhense apresentou um resultado que segue rigorosamente as tendências de crescimento demográfico apresentadas pelo IBGE por meio do seu cálculo de estimativas populacionais para os municípios brasileiros. O que muda? Aumenta a população, aumenta a demanda por mais recursos públicos, o que exige das autoridades criatividade e maior agressividade em busca desses recursos para ofertar serviços mais consentâneos às necessidades da sociedade ludovicense. Enfim, o desafio para gerir o espaço socioeconômico é maior.

JP – Qual percentual da população que ficou sem ser recenseada e o que vai ser feito?

MVM – Dos 1.890.592 domicílios recenseados, entrevistamos moradores em 1.621.301 domicílios, ou seja, em 85,76% do total. Foram classificados como fechados 35.502 domicílios (1,87%). Nestes, não foi possível realizar as entrevistas presenciais, mas havia evidências de que existiam moradores. Nesses casos, o IBGE utilizou uma metodologia para estimar o número de pessoas residentes. Esta é uma prática já adotada por institutos oficiais de estatísticas internacionais de países como Estados Unidos, Canadá, México e Nova Zelândia. A metodologia desta estimação consiste em atribuir a cada domicílio fechado o número de moradores de outro domicílio, que havia sido inicialmente considerado fechado e depois foi recenseado. A escolha foi aleatória, levando em conta a unidade da federação, o tamanho da população do município e a situação urbana ou rural. O Censo Demográfico encontrou ainda 159.293 domicílios vagos (que não tinham morador na data de referência, mesmo que, posteriormente, durante o período da coleta, tivessem sido ocupados) e 74.496 de uso ocasional (usados para descanso de fins de semana, férias ou outro fim).

JP – Foi difícil a aplicação do censo e os principais problemas apresentados?

MVM – O Censo é, e sempre será, uma operação de alta complexidade. Como tal, sempre existirão dificuldades. Entretanto, com o planejamento adequado e valendo-se do fato de sermos o primeiro país a realizar um censo demográfico totalmente informatizado, tais problemas foram superados com êxito. Podemos, no entanto, citar como dificuldades recorrentes: as recusas existentes em áreas nobres da capital e de municípios de médio porte, áreas urbanas de algumas cidades com problemas de segurança, áreas rurais de acesso difícil em função de grandes distâncias a percorrer e frágil infra-estrutura no que concerne à transmissão de dados pela internet que, em alguns municípios, é ainda extremamente precária. Até transmissão de ligação telefônica convencional ainda deixa a desejar.

JP – Qual será o próximo censo e o ano?

MVM – O IBGE vem estudando a possibilidade de execução de um censo contínuo, ou seja, anual. Entretanto não temos nada ainda definido. Caso esta possibilidade não se concretize, deveremos ter um novo Censo Demográfico em 2020.

JP – Algum outro tipo de pesquisa em andamento que mereça ser destacado?

MVM – Sim. O IBGE não realiza apenas o Censo. Temos uma extensa lista de pesquisas que são realizadas no intuito de retratar o Brasil. São pesquisas conjunturais e estruturais de cunho econômico, social e demográfico, realizadas periodicamente e cujos resultados são sempre divulgados na mídia e disponibilizados na internet (www. ibge.gov .br). Fornecemos a cada cidadão brasileiro as informações necessárias para o conhecimento de seu território, de sua gente e de sua economia, norteando políticas públicas e viabilizando o exercício da cidadania.

JP – Algo mais a acrescentar?

MVM – Reforço que o IBGE concluiu o maior censo já realizado. Divulgamos os resultados em tempo recorde e despertamos o interesse de institutos oficiais de estatística de muitos países que, inclusive já solicitaram ajuda e cooperação na execução de suas operações censitárias. Gostaria de agradecer a todos os maranhenses pelo engajamento, senso de civilidade e cidadania, demonstrados ao longo de todo o Censo, bem como a cada recenseador, supervisor, agente censitário e coordenador pelo profissionalismo e eficiência apresentados. Agradeço, também, à imprensa maranhense, às prefeituras municipais do Estado, pelo apoio dado ao Censo. Reservo especiais agradecimentos ao Instituto da Cidade, Pesquisa e Planejamento Urbano e Rural (Incid), órgão vinculado à prefeitura de São Luís; e ao Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (Imesc), órgão este do governo do Estado. Por fim, nossos agradecimentos aos membros das Comissões Municipais e Estadual de Geografia e Estatística.

 

(Fontes: JORNAL PEQUENO, Ed. 23585, ENTREVISTA – pág. 13)

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