Industrialização do caranguejo do Delta do Parnaíba é viável
Estudos constatam a viabilidade da exploração sustentável do crustáceo na fronteira entre os estados do Maranhão e do Piauí.
A exploração sustentável do caranguejo-uçá no Delta do Rio Parnaíba – região que é a principal produtora de crustáceos do Nordeste do Brasil – é viável, e a industrialização do produto, com aplicação de tecnologia brasileira e chilena, poderá agregar valor à atividade, praticada por mais de 4,5 mil catadores, que vivem da captura e comercialização de cerca de 20 milhões de unidades por ano na divisa dos estados do Maranhão e do Piauí.
Os estudos e as ações que estão sendo desenvolvidos pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) com outros parceiros, desde 2006, com vistas à estruturação e à sustentabilidade desta importante atividade produtiva extrativista, estão reunidos na publicação Industrialização do Caranguejo-uçá do Delta do Parnaíba, que será lançada na Feira da Micro e Pequena Empresa (Fepeme), em Parnaíba (PI), que acontecerá de amanhã até domingo (22).
A publicação descreve, por exemplo, os experimentos que levaram à criação de nove produtos à base de caranguejo, os quais foram submetidos a testes laboratoriais, sensoriais e de aceitabilidade do paladar de mais de 300 consumidores em restaurantes de Parnaíba e Teresina (PI), Fortaleza (CE) e Recife (PE).
De acordo com o engenheiro de pesca Albert Bartolomeu Rosa, técnico da Codevasf e coordenador do projeto, a industrialização do caranguejo é viável.
“Os produtos desenvolvidos no projeto-piloto apresentam grande possibilidade de ampliação de mercado para o crustáceo para além das cidades litorâneas próximas às áreas de produção, e que não se restrinjam apenas a patinhas, casquinha e caranguejos inteiros”, observou o técnico.
O projeto-piloto de industrialização do caranguejo-uçá no território da planície litorânea do Parnaíba, nos estados do Piauí e do Maranhão, contou com recursos do Ministério da Integração Nacional, por meio da Secretaria de Programas Regionais, tendo como um dos executores o Instituto Ambiental Brasil Sustentável (IABS).
Teve também parceria firmada entre a Codevasf, a Fundação de Educação, Cultura e Desenvolvimento Tecnológico (Fundetec) e a Secom Aquicultura, Indústria e Comércio S.A, localizada em Luís Correia (PI), que disponibilizou seu frigorífico e adaptou suas instalações para o desenvolvimento de tecnologia de industrialização de caranguejo.
Atendendo a padrões higiênico-sanitários exigidos pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF), foram elaborados nove produtos à base de caranguejo-uçá e submetidos a testes laboratoriais, sensoriais e de aceitabilidade com consumidores.
Os catadores, que também participaram do projeto-piloto, consideram a iniciativa importante. “Nós, como coletores da espécie, aprendemos a cuidar e a valorizar o produto, não catando os caranguejos pequenos nem as fêmeas. Isso ajudará a manter a nossa fonte de renda”, disse o catador Marcos Antonio Costa.
Produção sustentável é a saída
O projeto-piloto de industrialização do caranguejo-uçá no território da planície litorânea do Parnaíba, nos estados do Piauí e do Maranhão, visou desenvolver produtos com maior valor agregado, reduzir de forma significativa a mortalidade que ocorre ao longo da cadeia produtiva pelo aproveitamento industrial do crustáceo na própria região e, como consequência, reduzir o esforço de captura e melhorar a sustentabilidade da exploração.
Além disso, visa incrementar a renda e a profissionalização do setor, melhorando as condições de vida das populações dedicadas a essa atividade extrativista, melhorar e garantir a qualidade sanitária dos produtos colocados no mercado, aumentar o tempo de prateleira e regularizar a oferta de produtos do crustáceo nos mercados tradicionais, além de abrir novos mercados.
Na avaliação do diretor de Produção da Secom Aquicultura, Frederico Ayres, os resultados foram positivos. “O projeto é importante como incentivo para a população local se desenvolver, especialmente os catadores e dar vazão de forma ordenada à produção, contando com melhores condições de higiene”.
Para o diretor, a industrialização do caranguejo já é um conhecimento consolidado na empresa. “Ainda não iniciamos o processamento. Temos algumas barreiras internas e obstáculos ligados ao hábito de consumo. Precisamos direcionar os investimentos necessários para implantá-lo, mas essa ação faz parte do nosso planejamento estratégico. Acreditamos que até 2015 estaremos colocando-o em prática”, afirma Frederico Ayres.
Ações - Além do projeto-piloto de industrialização, diversas ações já vinham sendo desenvolvidas pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) com vistas à estruturação da atividade.
Em parceria com o Governo do Estado do Piauí, por exemplo, a companhia construiu o Centro de Recepção e Comercialização de Caranguejos do município de Ilha Grande e promoveu o microzoneamento ecológico-econômico da Planície Litorânea do Parnaíba - com a Fundação Sousândrade de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade Federal do Maranhão.
A Codevasf também contratou consultores para analisarem a matéria-prima, o potencial de produção de caranguejo-uçá e as instalações de processamento de pescado daquela região com vistas a avaliar a possibilidade de industrialização de caranguejo no Delta do Parnaíba.
Os estudos confirmaram os problemas de mortalidade que ocorrem na cadeia produtiva do caranguejo e as precárias condições do processamento artesanal do crustáceo.
Além disso, confirmou-se o potencial da matéria-prima e a existência de indústrias de beneficiamento do camarão na região em condições de processar caranguejo.
As iniciativas da Codevasf em torno desta atividade se somam a outras, do Governo Federal, que têm sido empreendidas.
Mais
Emprego
A atividade extrativista do caranguejo-uçá, no Delta do Parnaíba, entre os estados do Piauí e Maranhão, emprega aproximadamente 4,5 mil catadores. São eles que, expostos a condições de trabalho muitas vezes penosas e insalubres, abastecem os mercados consumidores.
Tradição
O trabalho é feito de maneira rudimentar. Os animais são retirados do mangue de forma manual. Para isso, os catadores ficam em contato direto com a lama por várias horas, estendendo-se no chão frio, o que ocasiona, em médio prazo, consequências nocivas à saúde.
Captura
Dependendo da época do ano, são capturados cerca de 70 unidades por catador/dia. Os métodos tradicionais de captura com o armazenamento e o transporte inadequados até os revendedores finais contribuem para a grande mortalidade desses crustáceos, estimada entre 40% e 60%. (Fonte: O Estado do Maranhão)