Produção da indústria cresceu 10,5% em 2010
Rio - A produção industrial brasileira cresceu 10,5% no ano passado, resultado só visto há 24 anos, em 1986, no auge do Plano Cruzado. A recessão que o país viveu em 2009, quando a indústria recuou 7,4%, explica parte dessa expansão recorde. Outra parcela veio dos incentivos fiscais. Carros, eletrodomésticos, máquinas e equipamentos e construção civil tiveram os impostos reduzidos ou retirados até o primeiro trimestre do ano. Não por acaso, o período com a maior alta do ano: 3,1%. Em dezembro, porém, a esperada elevação depois de meses de estabilidade não veio. A expectativa era de alta entre 0,4% e 1,5%, mas houve retração de 0,7%, na segunda maior queda do ano, informou ontem o IBGE.
“Essa desaceleração é explicada pelo aumento das importações, estoques elevados, alta das taxas de juros a partir de abril de 2010 e a retirada dos incentivos fiscais”, explicou André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal. Para mostrar esse momento estagnado na indústria, em dezembro de 2010 frente a dezembro de 2009, aumentou em 10% o número de empresas que relataram paralisações, férias coletivas e estoques elevados.
Consultorias e corretoras, diante do resultado inesperado, começam a rever suas projeções para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) em 2010. Fernando Montero, economista-chefe da Convenção Corretora, vai reduzir sua projeção de 7,8% para o ano. “A produção descolou do varejo. A quantidade produzida é 2,5% maior frente a 2008. No varejo, a distância é de 26,7%. Até mesmo a alta recorde no ano tem suas nuances”, afirmou.
Silvio Sales, economista da Fundação Getulio Vargas, lembra que em 1986 o crescimento de 10,9% veio depois de uma alta de 8,5%. E o país era mais fechado, sem a concorrência das importações. “Frente a 2008, a alta foi um pouco superior a 2,3%. As compras externas explicam, segundo analistas, a estabilidade na indústria no segundo semestre. A demanda aquecida, com mercado de trabalho no seu melhor momento e o varejo vendendo como nunca, foi parcialmente atendida por produtos de fora”, destacou.
O impacto foi maior nos bens duráveis (carros e eletrodomésticos) e nos intermediários (insumos para indústria). A produção de bens de capital, aqueles voltados para o aumento da capacidade produtiva da indústria, cresceu 20,8%, também a maior alta desde 1986.
Segundo Macedo, isso dá qualidade à expansão da indústria, por estar diretamente ligada ao investimento na economia, à expectativa dos agentes econômicos e à modernização do parque. “A base de comparação baixa (em 2009, a produção recuou 17,4%) relativizou a expansão”, disse.
(Fontes: O ESTADO DO MARANHÃO, Ed. 17.705, Economia – pág. 09)