Após o passado histórico, indústria têxtil volta a se expandir no Maranhão

31-12-2011 09:10

O Maranhão, com seu vasto território de mais de 333.000 km², já foi muito reconhecido por seu parque têxtil a partir da segunda metade do século XVIII. A dinâmica econômica mundial, bem como vários acontecimentos históricos relevantes, fizeram esse ramo industrial ascender e sucumbir em diferentes décadas. Tendo uma retomada tímida nas últimas décadas, a indústria têxtil está em processo de expansão, sobretudo por causa de iniciativas pessoais.

Este novo processo de ampliação começou com a produção de fardamentos e, aos poucos, ganhou contornos mais sofisticados, sendo possível, hoje, identificar empresas que trabalham com a criação de uma moda local. Estas pequenas empresas dedicadas à produção de roupas se concentram principalmente em São Luís e Imperatriz.

Um levantamento realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostrou que, só em São Luís, foram identificadas mais de 600 unidades produtivas do setor.

Empregos - Essas microempresas empregam em torno de seis pessoas cada e fabricam itens de vestuário em malha, principalmente fardamentos profissionais e uniformes escolares. Entretanto, há as que atuam em diversos segmentos da moda. Metade dessas empresas produz até 1.500 peças por mês, a maioria atua no setor informal (57,0%). Além dessas, existem as unidades que produzem entre 1.500 e 5 mil peças por mês, as que produzem de 5 mil a 15 mil peças, e aquelas com produção superior. Todas elas fazem parte do segmento formal.

Outras cidades com potencial de produção de vestuário são: Imperatriz, Bacabal, Palmas e Fortaleza. Os principais compradores da produção maranhense de vestuário são os lojistas.

A gestora do Projeto de Agentes Locais de Inovação (ALI), desenvolvido pelo Sebrae, Paula Waldira Bastos Ferreira, explica que a retomada da indústria têxtil no Maranhão é promissora, influenciada principalmente pela chegada de grandes empresas ao estado. "Destacamos no cenário atual a oportunidade de fardamento para grandes empresas que se instalaram no Maranhão, a exemplo da MPX, Alumar, a refinaria Premium, entre outros", pontuou.

Indústria têxtil - Como todo setor econômico, a indústria têxtil maranhense também tem de enfrentar algumas dificuldades para ter um bom desenvolvimento. A principal delas é a falta de mão de obra qualificada.

"O principal gargalo apresentado pelos empresários é a dificuldade de pessoal qualificado. A maioria das costureiras é amadora e sua experiência é tácita. O empresário precisa investir permanentemente em capacitação de pessoal. Outra dificuldade é aquisição de máquinas e equipamentos modernos. Hoje quase metade da linha de produção do setor têxtil é automatizada. O empresário que queira expandir sua empresa obrigatoriamente necessita investir em equipamento e quase sempre esbarra em dificuldade de crédito", explicou Paula Waldira Bastos Ferreira.

A gestora do ALI ressalta que o empresário que queira investir no ramo têxtil deve ficar sempre atento à formação de seus empregados. "O empresário não somente do setor têxtil como em qualquer negócio precisa entender que a capacitação de pessoal deve ser constante e chegando muitas vezes até em treinar pessoal em serviço, ou seja, formar o empregado", afirmou.

"Outra sugestão válida é buscar parcerias com outras empresas do setor, com instituições de apoio a exemplo do Senai [Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial] que possui curso específico de corte e costura. Para isso, se faz necessária a cultura da cooperação que ainda é muito incipiente no nosso estado", complementou. E, sobretudo, o empresário deve ficar atento à gestão das finanças, para que, no momento oportuno, ele possa adquirir equipamentos com recursos próprios.

Segundo Paula Waldira Bastos Ferreira, a criação de uma indústria têxtil, ainda que de pequeno porte, pode representar a injeção de R$ 10 milhões no estado. "Isso, considerando que para se instalar uma pequena indústria têxtil, para sua funcionalidade existe o processo da cadeia de fornecedores", observou.

Empresária persistiu e hoje tem clientela cativa

Alana Cordeiro, dona de empresa de confecção moda praia, diz que, no início, houve quem sugerisse que ela colocasse “by Rio” na etiqueta das peças

A empresária Alana Cordeiro, que há 12 anos atua na área de confecção de biquínis, já teve várias experiências no ramo, tanto positivas quanto negativas. Com o pai dono de malharia, Alana sempre teve contato com a produção de roupas e se interessou, desde cedo, pelo ramo. "Quando comecei, andava com uma pasta com as estampas e levava para a casa das minhas amigas. Elas escolhiam a estampa e o modelo de biquíni e eu confeccionava. Só vendia para pessoas conhecidas", relatou.

Aos poucos, o projeto de Alana se expandiu, ela criou a marca Água Viva e passou a vender para lojas. "Elas vendiam muito rápido. Com isso, resolvi expandir ainda mais o negócio, mas desta vez me dei mal. Contratei representantes para venderem no interior. Infelizmente, eles davam cheque sem fundo, recebiam o lucro e não repassavam para mim. Foi uma experiência muito ruim", lembrou. Nem assim a empresária desistiu do negócio. Pelo contrário, resolveu abrir a sua primeira loja, dentro de uma academia. "Por causa da localização, acabei investindo na produção de roupas fitness também", explicou. Para ampliar a atuação, a empresária investiu na compra de maquinário usado e na contração de funcionários. "Comprei de uma vizinha. Dei uma parte e o resto fui pagando aos poucos", relatou.

Primeira loja - Há dois anos, Alana Cordeiro abriu a sua primeira loja em um shopping de São Luís. "Muitas vezes senti o preconceito das pessoas que não acreditavam em roupa local de qualidade. Chegaram a sugerir que eu colocasse alguma referência como ‘by Rio’, para não dizer que era uma marca maranhense. Ma não desisti", disse.

Hoje, a fábrica de Alana Cordeiro tem 25 máquinas industriais e emprega oito funcionários só na produção de peças. A loja tem mais três funcionários. Com seus 12 anos de experiência, a empresária afirma que obter mão de obra qualificada é um dos principais desafios para a consolidação de uma marca. "Por isso, valorizo os meus funcionários e estimulo a qualificação deles. Infelizmente, temos poucos cursos de formação na cidade", criticou. A empresária planeja levar alguns funcionários para fazer cursos de corte e de modelagem em outros estados.

A empresária participa do ALI e com esse acompanhamento pôde profissionalizar ainda mais a sua atuação no mercado. "Recebi a instrução de patentear a marca e o ALI abriu a oportunidade de participação no São Luís Fashion. Depois desta participação, senti que o reconhecimento da marca atingiu outro patamar", ressaltou.

Para quem está planejando investir na área, a empresária dá algumas dicas. "Primeiro, é primordial ter crédito. É importante também estar sempre atualizado. Hoje, eu participo de feiras de máquinas para conhecer o que o mercado está usando e manter a confecção sempre atualizada. Para finalizar, é importante ter prazer no que faz”, enumerou.

Dicas

- Paula Waldira Bastos Ferreira explica que não basta vontade, é preciso definir o foco da indústria têxtil.

- Ela diz que o mercado hoje exige segmentação. Com isso, a empresa se diferencia de forma competitiva. Exemplo: moda íntima, moda praia, infantil, gestante, moda extragrande, entre outros.

- Outro erro comum é não realizar o mínimo de estudo do que seria o layout ideal para uma pequena fábrica.

- Assim, é comum não separar a produção da área de vendas da empresa. Com as duas áreas funcionando juntas, existe muito conflito de informações no que se refere ao controle das vendas e dos custos da produção.

- O valor cobrado pela peça geralmente não é o adequado, de acordo com a estrutura de custos da empresa.

Fábricas/Histórico

- Companhia de Fiação e Tecidos de Cânhamo, em 1891, 900 contos de capital, com 105 teares e objetivo de fabricar tecidos de juta;

- Companhia Progresso Maranhense, em 1892, com 150 teares, 160 operários, produzindo panos de algodão;

- Companhia Fabril Maranhense - Santa Isabel, capital realizado de 1.700 contos, 450 teares, 600 operários, produzindo riscado e domésticos de algodão;

- Companhia de Fiação e Tecidos do Rio Anil, em 1893, 1.600 contos, 172 teares, 60 máquinas de fiação e 18 de branqueamento, produzindo morins e madapolões, com 209 operários;

- Companhia Manufatureira e Agrícola, de Codó, capital de 1.000 contos, 150 teares, produzindo fazenda, fios e corda, com 250 operários;

- Fábrica de Tecidos de Malha Ewerton, instalada em São Luís, em 1893, produzindo meias e tecidos para camisas, com 30 operários;

- Companhia Industrial Maranhense, 250 contos, 1894, destinada à manufatura de fio, punhos e linha de pesca, com 50 operários;

- Companhia Lanifícios Maranhenses, 600 contos, 22 teares e outros aparelhos, com o objetivo de tecer todos os produtos de lã, seda e algodão, ocupando 50 operários. (Fonte: O Estado do Maranhão)

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