Após 10 anos, Roger Agnelli deixará o comando da Vale

26-03-2011 08:41

 

RIO - O presidente da Vale, Roger Agnelli, deverá deixar o comando da mineradora. A informação foi dada por agências de notícias on-line no início da noite de ontem. O Bradesco teria aceitado a decisão dos outros acionistas da empresa e o substituto deverá ser escolhido nos quadros da própria empresa. A saída de Agnelli, que vinha comandando a empresa havia 10 anos, ocorreu após notícias de interferência política dentro da Vale.

Na sexta-feira da semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pediu ao presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Lázaro Brandão, a saída de Agnelli. A União não consegue fazer mudanças sozinha na Vale. Por seu peso na mineradora, o parceiro preferencial é a Bradespar, empresa de participações dos donos do Bradesco, que detém 21,21% da Valepar, holding controladora da Vale. Agnelli é egresso do Bradesco e, por isso, foi escolhido pelo banco para comandar a Vale, em 2001.

Pelo acordo de acionistas, cabem ao banco decisões de gestão da mineradora, justamente para afastar qualquer caráter estatal do dia a dia da companhia. Isso porque, na prática, a Vale, privatizada em 1997, está majoritariamente nas mãos de entes sob controle direto ou indireto do governo: BNDESPar (braço de participações do BNDES) e fundos de pensão de estatais, que detêm juntos 61,51% da holding que controla a mineradora (Valepar). Para trocar a presidência, porém, são necessários 75% dos votos.

Roger Agnelli foi diretor-executivo do Bradesco entre 1998 e 2000. Depois, comandou a Bradespar. Dali saiu para a presidência da Vale. Ontem, mais cedo, Agnelli divulgou nota em que negava envolvimento com "qualquer questão política ligada ao assunto" e afirmava que a decisão sobre sua permanência caberia exclusivamente aos acionistas controladores da empresa.

Twitter - Em meio às notícias de pressões políticas para tirar Roger Agnelli da presidência da Vale, usuários do serviço de microblog Twitter começaram uma campanha pela permanência do executivo na mineradora. A hashtag (símbolo que indica um assunto) #FicaAgnelli, que identifica a "campanha", não subiu para a lista dos chamados "trending topics", isto é, os "assuntos" mais repercutidos pelos frequentadores do Twitter.

Os usuários do serviço usam a campanha para protestar contra a suposta interferência do governo na mineradora. "A Vale tem o maior lucro de sua história e o governo quer mandar o Agnelli embora! Governo devia ficar quieto no lugar dele!", escreve um deles, enquanto outro chama o executivo de "Steve Jobs brasileiro", comparando Agnelli ao presidente-executivo da Apple.

Na quinta-feira, circularam comentários de que poderia ocorrer uma demissão coletiva de diretores da Vale caso Agnelli fosse realmente substituído no comando. Uma fonte na companhia confirmou que existe essa intenção por parte de alguns executivos, mas não soube informar se efetivamente todos eles estariam propensos a acompanhar o movimento.

Uma fonte no Palácio do Planalto havia dito na quinta-feira que a intenção do governo ser sacramentar a mudança na mineradora em poucos dias, antes da viagem da presidente Dilma Rousseff à China, no dia 9 de abril. Lá, ela participa da reunião dos BRICs (Brasil, Rússia, China e Índia) e fará uma visita oficial ao país. Não está descartada a possibilidade de que o novo executivo da Vale acompanhe a comitiva brasileira.

Planalto tinha embates com Agnelli desde 2008

Rio - As relações entre o Planalto e Roger Agnelli começaram a ‘azedar’ em 2008, durante a crise financeira internacional. Na época, o ex-presidente cobrou Agnelli pelas demissões - 1.900 funcionários foram cortados - feitas pela Vale no fim daquele mesmo ano, sem ser informado previamente.

Novo embate ocorreu no ano passado, quando Lula criticou a política da Vale de investir apenas na produção de minério, em vez de outros produtos de maior valor agregado, como aço e derivados. A Vale acertou pouco depois um plano de investimentos na construção de siderúrgicas no país. Em entrevista no ano passado, durante viagem à África, Agnelli classificou os rumores de sua substituição de "jogo político" e afirmou que o que estava por trás do "disse-me-disse" era o fato de ter muita gente do PT "procurando cadeira". A declaração causou grande desconforto no Palácio do Planalto.

 

(Fonte: O Estado do Maranhão, ed. 17.756, Economia - pág. 09)

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