Construtora quer extra de R$ 1,2 bilhão na usina de Jirau

30-03-2011 11:21

 

PORTO VELHO - Os problemas da Camargo Corrêa com a construção da hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, não devem acabar com a retomada dos trabalhos após a destruição parcial do canteiro de obras. Uma disputa interna no consórcio Energia Sustentável do Brasil (ESBR), liderado pela belgo-francesa GDF Suez, demandará muita disposição da construtora para garantir o ressarcimento de custos adicionais causados por alegadas alterações nos contratos de Jirau.

No chamado "claim", a Camargo Corrêa reclama R$ 1,2 bilhão de um "pacote" adicional de serviços de escavações, concretagens e desvios feitos no rio Madeira pela empreiteira para, entre outras ações, acomodar duas novas turbinas na hidrelétrica de 3.450 megawatts instalados. Nessa discussão estão ainda reajustes de custos de mão-de-obra, aumentos salariais, encargos tributários e despesas de escritório da construtora. Consultada, a Camargo preferiu não comentar o caso.

O presidente do consórcio Energia Sustentável, Victor Paranhos, confirmou ao Valor as negociações com a construtora, dona de 9,9% de Jirau. E explicou os detalhes da proposta de aditivo contratual. "O que se discute é o custo indireto deles. Mão de obra e escritório. Mas eles já receberam parte do pacote. E ainda estão recebendo", afirmou Paranhos. "Eles podem reclamar, mas é custo deles. Vão ter uma negociação dura, mas ninguém está aqui para parar a obra". Ele lembrou que o consórcio de fornecedores, formado por Alstom, Andritz e Voith, tentou um "claim", mas "já saiu correndo". "Você já viu alguma empresa dizer que perdeu? Faz parte do show", resumiu Paranhos.

O principal executivo de Jirau admitiu um custo de R$ 600 milhões com serviços adicionais provocados pela mudança de localização da usina (12 quilômetros à jusante do rio) e a demora no licenciamento ambiental do desvio do Madeira. Ele afirmou, porém, que o aumento do custo de obra foi compensado pelos pagamentos via regime de preço unitário. "Aumentou o custo, mas ela recebeu mais e ganhamos parte disso em mais energia".

As duas turbinas extras devem gerar 49 MW adicionais. E a mudança de local garantiria outros 148 MW. As alterações elevaram o custo da obra, de R$ 9 bilhões para R$ 11,9 bilhões. "Mas era preço de 2008", ressalvou.

Victor Paranhos admitiu negociar com a Camargo um "aditivo" de R$ 300 milhões a R$ 500 milhões. Mas ressalvou que o adicional por serviços questionado pela Camargo já estava "precificado" no fluxo de caixa da construtora ao longo da obra. "O 'claim' deles hoje é zero", disse. O executivo afirmou que a empresa receberá pelas máquinas adicionais em regime de preço unitário. "A Camargo está reclamando o pacote, e não só o 'claim' dos adicionais. Então, escavou, ganhou. Concretou, ganhou".

O executivo afirmou haver "confusão" entre os regimes de preço unitário e de EPC (Engenharia, Compras e Construção, na sigla em inglês). "Aqui, é preço unitário, e não EPC", afirmou. No regime "EPC", as relações jurídicas para a construção da obra estão concentradas em apenas uma empresa, desde os estudos de viabilidade, os serviços especializados, a construção civil, os equipamentos fornecidos e a coordenação e integração para a execução do empreendimento.

Paranhos informou que o consórcio fez 12 contratos com fornecedores de serviços e equipamentos. O contrato com a Camargo, segundo ele, significa 31% do custo total da obra.

As discussões do "claim" estão centradas, segundo o dirigente do ESBR, na elevação do "custo Rondônia", que seria superior ao "custo Brasil". O executivo calculou em 25% o aumento dos custos causado pela inflação (IGP-M) desde 2008, quando a obra começou a ser erguida. "A fórmula paramétrica estourou. Houve uma inflação paramétrica", disse. Na verdade, o número acumulado entre 2008 e 2010 somou 20,1%. Além disso, disse ele, o consórcio já gastou R$ 1,229 bilhão em compensações sociais e ambientais, a chamada "conta 10". Os equipamentos da obra já consumiram R$ 5 bilhões dos sócios.

O executivo do consórcio Energia Sustentável do Brasil afirmou, ainda, que as sócias desembolsaram R$ 210 milhões para erguer uma nova cidade que abrigou ex-moradores de Mutum-Paraná, que será alagada pelo reservatório de Jirau. Além disso, os investimentos sociais na região de influência da hidrelétrica teriam passado de R$ 89 milhões. Nas compensações ambientais, as empresas gastaram R$ 80 milhões. "O que estourou o orçamento foi a 'conta 10', onde fizemos uma nova cidade que não estava prevista", afirmou Victor Paranhos.

Antes disso, porém, o executivo lembrou que a decisão interna do consórcio pela compra de equipamentos nacionais "estourou o orçamento no início" da obra. As turbinas da chinesa Dongfang, por exemplo, são 40% mais baratas do que as máquinas produzidas pelo consórcio CFJ no canteiro de Jirau, segundo ele.

(Valor Online, Empresas)

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