Daimler monta plano para elevar produção

06-04-2011 11:11

 

O ditado de que alguns males vêm para o bem também serve para a indústria. O grupo Daimler passou anos sem saber o que fazer com a fábrica de automóveis ociosa em Juiz de Fora (MG). Ontem, Andreas Renschler, chefe mundial da área de caminhões da companhia, não escondia a sensação de alívio com a decisão de usar o espaço vago em Minas para produzir mais caminhões no Brasil. Cabe a ele, agora, atender ao pedido do presidente da filial brasileira, Jüergen Ziegler, que pretende criar o terceiro turno em São Bernardo do Campo (SP) enquanto a reforma em Juiz de Fora não termina.

"Agradeço se me ajudarem a convencer a direção de que o terceiro turno é a decisão mais acertada nesse momento", disse Ziegler durante um encontro que ele, Renschler e o responsável pela marca Mercedes na América Latina, Hubertus Troska, tiveram com alguns jornalistas. Os executivos de Stuttgart estão no Brasil "para visitar o amigo Ziegler", segundo uma das várias respostas que Renschler soltou mesclando ironia e boas risadas.

O executivo tem motivos para rir à toa quando está no Brasil. No ano passado, o país foi o maior mercado do mundo dos caminhões Mercedes-Benz e os resultados iniciais de 2011 mantiveram a colocação. Com 44,3 mil caminhões em 2010, as vendas da marca no Brasil também ultrapassaram às da Alemanha (29,1 mil) e Turquia, em terceiro, com 11,5 mil. Em ônibus, o Brasil continuou líder mundial para a Mercedes, seguido de Argentina e México.

Renschler revelou que o total de investimentos para transformar as instalações em Juiz de Fora em uma fábrica de caminhões vão somar € 200 milhões. Os recursos serão usados em prédio adicional e equipamentos e integram o plano de investimentos que a companhia reservou para o Brasil, de R$ 1,5 bilhão entre 2010 e 2013.

Da fábrica inaugurada em 1999 para produzir automóveis começarão a sair caminhões no final do ano. Para isso, 400 operários que já trabalhavam na linha dos carros estão sendo treinados em São Bernardo do Campo.

Algumas linhas em São Bernardo, como as de eixos e caixas de câmbio, já operam 24 horas ininterruptamente. Ziegler diz que agora quer obter da direção mundial permissão para expandir o terceiro turno em toda a área produtiva da unidade do ABC, que fornece para toda América do Sul.

Em 56 anos de história no Brasil esta será a primeira vez que a Mercedes funcionará com três turnos em toda a fábrica em São Bernardo. Segundo Ziegler, para criar a terceira turma será necessário abrir de 400 a 500 novas vagas onde já há 13 mil funcionários.

Com três turnos em toda a operação, a empresa quer evitar as sucessivas negociações de horas extras com os representantes dos trabalhadores. Em 2010, foram 30 jornadas a mais. Ziegler quer atingir a capacidade produtiva de 80 mil veículos para conseguir uma folga em relação ao volume de 75 mil obtido em 2010 graças ao trabalho extraordinário.

Todos os fabricantes se preparam para ampliar capacidade também por saber que toda vez que a legislação de emissões muda há antecipação de compra. No caso brasileiro, em janeiro entrará em vigor uma lei mais rígida para veículos a diesel - chamada Proconve 7 (equivalente à europeia Euro 5). Os veículos ficarão mais caros. Por isso espera-se, como sempre acontece, que muitos comprem nos últimos meses de 2011 veículos que necessitariam ter só 2012.

O ritmo já vem acelerado. Em 2010, as vendas de caminhões Mercedes no Brasil cresceram 43,8% em comparação com o ano anterior. Mesmo assim, a marca perdeu o primeiro lugar para outra alemã, a MAN, nova dona da Volkswagen Caminhões e Ônibus. O concorrente comprou as operações da Volks para conseguir entra na América do Sul com a operação praticamente pronta.

Renschler fala sobre o concorrente em tom de deboche. Diz que o processo que visa criar um novo grupo mundial a partir da fusão de três marcas - MAN, Volks e ainda Scania - "não é muito fácil". "Até agora só vemos conversas, conversas e mais conversas", afirma. O executivo lembra que a Daimler já passou por experiências de aliança. Com a americana Chrysler não deu certo. O grupo alemão usou, no entanto, operações locais para se fortalecer em mercados onde não atuava. É o caso da sua marca Freightliner nos EUA e Mitsubishi Fuso, no Japão.

Recentemente, houve uma tentativa de aproximação com a i Iveco, do grupo Fiat. Renschler confirma conversas para tentar comprar a marca italiana. "Mas não há discussões no momento", diz. Para ele, a tendência das fusões deverá ocorrer com muito mais força na China, um mercado onde existem mais de 40 marcas de caminhões.

É para mercados como China, Indonésia, Rússia e América do Sul e Índia, onde o grupo acaba de criar uma nova marca - a BharatBenz - que as atenções da Daimler agora se concentram. "As vendas na Europa e Estados Unidos estão se recuperando, mas não podemos esquecer que esses mercados sofreram quedas profundas em 2009, ao contrário do Brasil, que não foi abatido pela crise econômica mundial", diz Renschler.

Para o executivo que já comandou a área de automóveis do grupo, usar a instalação de Juiz de Fora para produzir mais caminhões foi uma decisão acertada nas atuais circunstâncias. Mas não se sabe o que pode acontecer num país que cresce de forma sustentável. Quando ergueu uma fábrica em Minas, há 12 anos, a Mercedes não imaginava que um dia a usaria para ampliar a produção de caminhões. No futuro, o mercado de carros luxo pode também crescer ao ponto de a produção local se transformar num bom negócio. "Construir uma nova fábrica, no caso, não seria um problema", diz Renschler.

 (Fonte: VALOR ECONÔMICO, DAIMLER)

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