Foco de Pimentel será o da competitividade das exportações

04-01-2011 16:36


Sergio Leo | De Brasília

"O nome do jogo é competitividade: o Brasil tem de ser competitivo", recomendou a presidente Dilma Rousseff ao novo ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, ao determinar "prioridade" para as "contas externas", segundo relatou o próprio ministro, ontem, em sua primeira entrevista à imprensa. Setores exportadores terão de receber novas reduções de imposto e os produtores nacionais serão protegidos de importações desleais por "mais e melhores " mecanismos de defesa comercial, informou o ministro.

Já em janeiro, por determinação da presidente, haverá uma reunião da Câmara de Comércio Exterior, que reúne oito ministérios, para detalhar as ações em política comercial e de apoio às empresas exportadoras, informou o ministro. "A equipe tem de estar afinada, os ministérios falando a mesma língua buscando o mesmo objetivo", argumentou. "A Camex vai unificar isso".

O ministro revelou que Dilma, antes da posse, foi "incisiva" em conversas com ele, com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, com a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, o presidente do Banco central, Alexandre Tombini e até com o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloysio Mercadante, ao avisar que não admite "coro desafinado" na política econômica, em temas como juros e câmbio. "Câmbio e juros são variáveis macro que não dependem da vontade do gestor", comentou Pimentel.

"A presidente Dilma foi muito incisiva, que a gente deve trabalhar sempre junto e que a coordenação da área econômica é do ministro Guido Mantega", relatou. "E sobre juros e câmbio quem fala é o ministro." A pauta da Camex terá influência direta da própria Dilma Rousseff, que quer participar da discussão sobre o tema pessoalmente, revelou Pimentel.

No discurso de posse, ao listar os "desafios" da economia, o novo ministro deu mostras do que será o discurso afinado da equipe econômica: criticou a "evidente guerra cambial mundialmente aberta, com reflexos em nossa balança comercial e efeitos perversos nas nossas indústrias", e lamentou que as taxas de juros não estejam "em níveis desejáveis", mas comentou que a queda dos juros exigirá "um esforço de disciplina fiscal - uma tarefa de delicada engenharia econômica e política".

Pimentel ressaltou a necessidade de aumentar o nível dos investimentos, não só em infra-estrutura como na qualidade de mão de obra, criticou os efeitos da "elevada carga tributária" sobre a competitividade das empresas e, ao falar da necessidade de medidas para compensar as empresas pela valorização do real em relação ao dólar, criou uma metáfora bem humorada inspirada no câmbio flutuante. "Uma pessoa leiga imagina um grande navio, um Titanic flutuando nas ondas, mas o câmbio flutuante é como uma porção de patinhos de borracha", comparou, sorrindo.

"Como patinhos de borracha na mesma onda, vai ter empresas lá em cima e outras lá em baixo, para uma mesma taxa de câmbio", explicou. A desoneração dos tributos, segundo Pimentel, "tira algum peso do patinho". Medidas como incentivo a inovação também podem "botar um motor no patinho, para que suba mais rápido". Mais sério, Pimentel comentou que as medidas de desoneração de impostos não resolverão os problemas da indústria de fundo, em longo prazo e que, embora o governo esteja disposto a tomar medidas para proteger "onde for cabível" as empresas da concorrência desleal , "não há outro caminho que não o da produtividade".

"Temos dificuldades setoriais relacionadas com o câmbio, mas são dificuldades do crescimento, desse ponto de vista é preocupante a situação", comentou o ministro. "O problema de longo prazo é que o Brasil precisa ser competitivo, ter alta produtividade, grau de inovação muito alto". Ele rejeitou, porém, a interpretação de que o Brasil passa por um processo de "desindustrialização", como alertou um documento do próprio Ministério, no ano passado. "O conceito de desindustrialização é muito forte, muito pesado para ser usado nesse momento no Brasil, estamos com indústria pujante, produzindo", comentou. "Não estamos regredindo."

Segundo Pimentel, será ainda neste semestre a criação da subsidiária do BNDES que funcionará como Eximbank, concentrando as operações de financiamento ao comércio exterior. Ele disse esperar que fique subordinado ao banco o fundo destinado a prover garantias para as operações, mas admitiu que terá ainda de conversar sobre o assunto com o ministério da Fazenda - que é contrário à ideia.

A posse de Fernando Pimentel não coube no acanhado auditório do ministério, que montou uma tenda no estacionamento para abrigar a cerimônia, na qual estiveram cerca de 450 pessoas, entre elas empresários, políticos e técnicos. Pimentel fez questão de citar nominalmente os deputados, prefeitos e correligionários que viu no auditório, e aproveitou o discurso para dar uma resposta indireta ao governador de Minas Gerais, Aécio Neves, que criticou o pequeno número de mineiros no ministério de Dilma. "A presidente da República é mineira, escolheu um mineiro para auxiliá-la no ministério do Desenvolvimento e o principal representante da indústria, meu amigo e presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, é mineiro também".

"Como todos sabem, ao fim e ao cabo, os mineiros sempre se entendem, se não se entenderam é porque a conversa não chegou ao fim", gracejou o ministro.

 

(VALOR ECONÔMICO; POLÍTICA; MDIC)

Contacto

Clipping

Av. Prof. Carlos Cunha, S/N, Edifício Nagib Haickel - Calhau.

(98) 3235-8621