Funcionários venderão ações da Usiminas

24-03-2011 11:11

 

SÃO PAULO - O grupo Gerdau contratou uma empresa de consultoria para preparar um estudo de avaliação de sinergias operacionais em uma possível fusão entre a Açominas, sua principal siderúrgica no país, e a Usiminas, segundo apurou o Valor com fontes do setor. A Gerdau poderia vir a comprar participação dos funcionários da Usiminas, de 10,1% no capital votante.

Para especialistas, a empresa da Gerdau, que também fica em Minas Gerais, adiciona à Usiminas espaço para ampliar a produção a custos competitivos, tem minas de ferro de alto teor, terminal portuário e também é uma das controladoras da ferrovia MRS Logística, assim como a Usiminas.

O minério de ferro da Açominas, cujas reservas estão sendo reavaliadas, seria utilizado para suprir a produção das três usinas que passariam a fazer parte de uma nova companhia. Supriria sua própria usina, em Ouro Branco, e as duas da Usiminas - uma em Ipatinga (MG) e a outra em Cubatão (SP), da antiga Cosipa.

Em associação com a Sumitomo, a Usiminas tem uma empresa de mineração, cuja produção, de minério de teor inferior, teria a grande parte destinada para exportação. É um casamento perfeito, disse uma fonte do setor, lembrando que seria criada a maior siderúrgica de aços planos nas Américas. Juntas, as duas empresas passariam de imediato a 14 milhões de toneladas, podendo chegar a pelo menos 20 milhões de toneladas no futuro.

Essa operação seria bem-vista pela Nippon Steel, principal acionista da Usiminas, ao lado de Votorantim e Camargo Corrêa. A questão é harmonizar os interesses desses sócios controladores com a Gerdau. Por exemplo: a Gerdau é concorrente direta da Votorantim no mercado de aços longos no Brasil, Argentina e Colômbia. Os japoneses consideram boa a ideia de ser sócia de uma grande siderúrgica fora do Japão.

A Caixa dos Empregados da Usiminas (CEU) contratou o Credit Suisse para vender sua participação na empresa. Segundo o Valor apurou, as ações do CEU foram oferecidas a CSN, Ternium, braço siderúrgico do grupo ítalo-argentino Techint, e Gerdau. As três empresas mostraram interesse no negócio. O grupo Gerdau negou, por meio da assessoria, que foi contatado pelo Credit Suisse e que contratou uma consultoria para avaliar fusão entre Açominas e Usiminas.

Ontem, a fatia do CEU na Usiminas, a valores de mercado, era de R$ 1,29 bilhão - isso sem contar o prêmio de controle. A participação da Camargo Corrêa e da Votorantim, juntas, é da ordem de R$ 3,3 bilhões, também sem o prêmio.

O grupo Votorantim informou que está satisfeito com sua participação na Usiminas. "A recente renovação do acordo comprova o interesse do grupo em se manter no bloco de controle e a visão de longo prazo em relação à empresa", disse em comunicado.

O mercado especula que a Gerdau estaria se capitalizando para comprar pelo menos parte da participação da Votorantim, da Camargo Corrêa e do CEU, com os japoneses aumentando sua fatia de forma a se manterem como os maiores acionistas. Por isso a Gerdau estaria fazendo emissão de ações, de R$ 5 bilhões, liderada pelos bancos Itaú BBA e BTG Pactual, que farão toda a distribuição internacional sem nenhuma atuação de banco estrangeiro. É a primeira transação de venda de ações registrada em Nova York que conta somente com bancos nacionais. O Bradesco BBI vai participar como co-líder, fazendo a venda no mercado nacional.

Com a transação, a Moody's colocou a nota de crédito da Gerdau em revisão para possível elevação. A Fitch Ratings também considerou a emissão de ações bem-vinda e informou que a empresa cada vez mais se enquadra no perfil de grau de investimento.

Em fevereiro a Nippon Steel, a Votorantim e a Camargo Corrêa mudaram o acordo de acionistas da Usiminas, com dois objetivos certos: acabar com rumores de fragmentação do bloco controlador da companhia ante uma possível saída da Camargo Corrêa e tirar do grupo diretivo, a partir de 2016, o CEU.

O novo arranjo, na verdade, visou fechar as portas para a entrada de sócios que não fossem de consenso entre os atuais controladores. De imediato, buscou bloquear as intenções de Benjamin Steinbruch, controlador da CSN, de pôr um pé dentro da Usiminas e provocar mudanças no bloco de controle. Com isso, o empresário poderia forçar uma fusão entre as duas siderúrgicas, um sonho que alimenta há muito tempo.

Diante da investida, os três grandes acionistas da Usiminas reagiram rapidamente para definir novas regras e prazos no bloco controlador. O atual acordo vence em 5 de novembro de 2021, mas tinha uma brecha aberta: em 2016 poderia ser renunciado (ato de resilição antecipada) por um integrante do capital que quisesse formatar nova composição. A participação do CEU era vista como alvo fácil de aquisição por alguém de fora, embora estejam garantidos aos japoneses e aos dois grupos brasileiros direitos de preferência.

O CEU, como outros clubes de empregados que ficaram com ações de ex-estatais nas privatizações dos anos 90, ficou com seu patrimônio quase todo concentrado nos papéis da empresa. Em alguma hora, teria de criar liquidez para pagar aposentadorias de seus pensionistas. Cerca de 80% do patrimônio do CEU é composto por ações da Usiminas, apurou o Valor.

Steinbruch, aproveitando o preço baixo da ação da Usiminas, vinha fazendo várias aquisições, por meio da CSN, de papéis ordinários da concorrente, passando de 5% das ordinárias e das preferenciais, num movimento visto como dúbio pelo mercado, pois se tratavam de títulos fora do bloco de controle. Em um fato relevante de 27 de janeiro, a CSN deixou claras suas intenções. "A companhia está avaliando alternativas estratégicas com relação a seu investimento na Usiminas, incluindo possíveis aquisições adicionais de ações (...) que poderiam levar a alterações na composição do controle ou na estrutura administrativa da Usiminas."

A avaliação é que seu intuito era, aos poucos, formar uma posição robusta que traria poder de voto no conselho no futuro, para então aguardar o momento certo para uma ofensiva mais ousada. Ao passar de 10% do capital, já poderia reivindicar direito de eleger um conselheiro na Usiminas.

O interesse da CSN na Usiminas, o novo acordo de acionistas da siderúrgica mineira, a megaoferta de ações da Gerdau e a contratação do Credit Suisse pelo CEU explicam intensa movimentação que levou à alta dos papéis ordinários (com direito a voto) da Usiminas, de 48,92% desde o início do ano.

(Ivo Ribeiro e Cristiane Perini Lucchesi | Valor)

 

(Fonte: Valor Econômico, Investimentos)

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