Governo negocia a operação de supercargueiros da Vale na China

10-03-2012 09:05

Meta inicial da Vale é atingir o mercado asiático, mas o governo chinês impôs restrições para grandes embarcações em seus portos.

RIO - O embaixador do Brasil na China, Clodoaldo Hugueney, declarou, ontem, durante evento na Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), no Rio de Janeiro (RJ), que as restrições impostas pela China para operação de navios da Vale, os chamados Valemax, nos portos daquele país, preocupam o governo brasileiro.

Os Valemax são carregados no Terminal Portuário Ponta da Madeira (TPPM), em São Luís (MA), com a commodity que vem da mina de Carajás (PA), cujo destino é o mercado asiático, a princípio. Recentemente, estas operações passaram a ser realizadas também no Porto de Tubarão (ES), administrado pela Vale, assim como o TPPM.

De acordo com o embaixador Clodoaldo Hugueney, em reunião ocorrida há 15 dias, em Brasília (DF), o governo levou o caso aos chineses, que alegaram ser esse um problema de segurança dos portos. "Os portos [da China] estavam autorizados a operar com navios de até 300 mil toneladas. Eles não têm experiência com navios desse porte, mas não fecharam a porta", disse o embaixador.

Segundo Hugueney, uma vez garantida a segurança, a operação poderá ser autorizada. A questão está sendo discutida também pela Vale com o governo chinês, para regularizar a situação. "Não vejo que vá haver nenhum problema maior nessa questão", ressaltou Hugueney.

O embaixador disse que, para o governo brasileiro, a prioridade é sempre tentar encontrar um ponto de equilíbrio com o parceiro comercial e chegar a uma solução pela via da negociação, em vez de fazer imposições. "A imposição deve ser sempre a última alternativa", concluiu.

Vale lembrar que, no início de fevereiro deste ano, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, consultado a respeito do problema dos navios da mineradora nos portos chineses, afirmou que o país estava disposto a ajudar a encontrar uma solução, caso a empresa solicitasse.

Restrição - A medida do governo chinês em relação a navios de grande porte (incluindo mineraleiros e petroleiros com capacidade de carga acima de 300 mil toneladas) foi divulgada no dia 31 de janeiro deste ano. O comunicado surgiu apenas um mês depois de a Vale tentar descarregar o VLOC Berge Everest, carregado com 388 mil/t de minério de ferro, no porto de Dalian - rapidamente gerando protestos da influente associação de armadores chinesa (China Shipowners Association - CSA), que vinha ativamente pedindo que Pequim barrasse os navios gigantes da Vale.

Na ocasião, o Ministério do Transporte chinês admitiu que sua decisão de proibir navios gigantes também decorre em parte da crise que assola a indústria de navegação chinesa, assim como assuntos de segurança marítima. Com a desaceleração econômica em importantes regiões no mundo, como a Europa, a demanda por embarcações, muitas delas construídas e operadas por companhias chinesas, caiu, levando também os valores do frete marítimo para baixo.

A frota de Valemax, mais competitivos que outras embarcações, pelos ganhos de escala, está ampliando sua atuação no mercado justamente neste momento ruim do setor, alimentando o lobby contrário chinês. A China Shipowners Association e as siderúrgicas disseram que a frota de meganavios da Vale pode ser um trunfo estratégico, que permitiria à mineradora monopolizar os mercados de minério de ferro às custas da China.

Vale - Desde o ocorrido, a Vale passou a adotar outras estratégias para atingir o mercado asiático com as suas commodities. A alternativa encontrada é utilizar países como Filipinas e a Malásia para atracar as embarcações, e repassar o minério a navios menores, que seguiriam para a China. Recentemente, a mineradora adquiriu o navio Ore Fabrica, que foi adaptado para funcionar como porto flutuante (fundeado próximo as Filipinas), recebendo carga de grandes cargueiros e transferindo para navios menores. Além disso, a mineradora iniciou, no mês passado, as operações no porto de Sohar, em Omã, na península Arábica.

Vale Brasil foi o primeiro proibido

Os navios em questão são os chamados Valemax, com capacidade para transportar 390 mil toneladas de minério de ferro, os maiores do mundo dessa classe, denominada Very Large Ore Carrier (VLOC).

Entretanto, até o momento, não há notícia de que os Valemax tenham descarregado em portos chineses. O primeiro da frota, o Vale Brasil, iniciou operações em maio de 2011 e tinha como destino o Porto de Dalian, mas acabou desviado de rota para a Europa.

A estratégia da Vale é construir uma frota da 35 supercargueiros, sendo 19 próprios e 16 de outras empresas (fretados à mineradora), dos quais cinco atualmente estão em operação: Vale Brasil, Vale Itália, Vale Rio de Janeiro, Vale China e Vale Beijing.

Este último é um caso especial, pois sofreu um acidente em sua viagem inaugural, em dezembro do ano passado, quando carregada minério no TPPM e apresentou rachaduras no casco. A avaria foi contornada quase dois meses depois e, atualmente, o cargueiro segue pela costa leste da África rumo ao Porto de Sohar, em Omã, para descarregar 260 mil toneladas de minério (volume atingido até o acidente acontecer) e depois seguir para um estaleiro, provavelmente na Turquia, onde serão feitos os reparos definitivos.

Todos os Valemax são carregados no Terminal Portuário Ponta da Madeira (TPPM), em São Luís (MA), com a commodity que vem da mina de Carajás (PA), cujo destino é o mercado asiático, a princípio. Recentemente, estas operações passaram a ser realizadas também no Porto de Tubarão (ES), administrado pela Vale, assim como o TPPM.

Oficialmente, o governo chinês passou a proibir navios da classe VLOC, o que inclui os Valemax, em seus portos desde o fim de janeiro deste ano, sob alegação de que aspectos de segurança marítima e de meio ambiente seriam restrições para operações com supergraneleiros.

Números

748 Milhões de dólares é o investimento feito na encomenda de sete navios supergraneleiros ao estaleiro Daewoo Shipbuilding & Marine Engineering Co, na Coreia do Sul

1,6 Bilhão de dólares é o investimento feito na encomenda de 12 navios supergranaleiros ao estaleiro Rongsheng Shipbuilding and Heavy Industries, na China.

16 Supergraneleiros Valemax que vão integrar a frota serão construídos por outras empresas para operação exclusiva com a Vale em contratos de longo prazo. (Fonte: O Estado do Maranhão)

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