Governo baixa o tom no comércio exterior

21-02-2011 14:57

 

Preocupada com o impacto dos resultados no comércio exterior sobre as contas externas do país, a presidente Dilma Rousseff elegeu o tema como uma de suas prioridades e, como anunciou por meio de seu ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, faria questão de participar da primeira reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex), que reúne os ministros com interesses na área. A reunião aconteceria na semana passada. Foi adiada, e Dilma provavelmente não participará dela, quando acontecer, em março.

As intenções de baixar medidas para beneficiar os exportadores e conter importações, especialmente as da Ásia, estão sob reavaliação. O ajuste fiscal anunciado pelo governo minou os planos ambiciosos de eliminação de impostos sobre a produção, embora a presidente mantenha alguns deles. Uma análise mais detalhada sobre as regras de defesa comercial também podou o pretendido ataque às importações, que será mais modesto do que as primeiras declarações de Pimentel faziam imaginar. Pimentel, ministro muito próximo a Dilma, tem uma dura tarefa pela frente, de ajustar os desejos aos limites da ação do governo.

É provável que Dilma não vá à reunião da Camex

A próxima reunião da Camex deverá decidir e anunciar medidas para encurtar os prazos de pagamento dos créditos tributários, a devolução, às empresas, de tributos como o PIS e a Cofins, recolhidos indevidamente no processo produtivo de mercadorias destinadas à exportação - isentas de imposto. Por enquanto, porém, esse reembolso de taxas que nem deveriam ter sido cobradas é a medida mais forte do pacote de desoneração de tributos anunciado pelo governo. A falta de medidas de grande impacto está entre os motivos por que Dilma decidiu não dar tanta visibilidade à reunião da Camex quanto planejava.

Mas, apesar da suspensão das bondades fiscais, para avaliar melhor sua afinação com o momento de aperto nas contas, Dilma não arquivou, por exemplo, a ideia de reduzir o peso de contribuições sobre a folha de salários, uma promessa de campanha, que pretende cumprir. Quando e como são questões em aberto. Há, no governo, discussões para reduzir gradativamente a contribuição sobre folha de salários, dos 20% atuais para 14% ou 12%, gradativamente e, o que prefeririam as autoridades, uma redução apenas para setores com maior emprego de mão de obra, como calçados ou têxteis.

Como já informou Cristiano Romero neste jornal, um dos modelos estudados é o aplicado para o setor de software, na Política de Desenvolvimento Produtivo, pelo qual as empresas do setor podem ter reduzida sua contribuição à Previdência, de 20% para 10%, sobre o faturamento obtido com exportações. O objetivo do governo com a redução da contribuição patronal e de outros encargos trabalhistas é não apenas dar maior competitividade às exportações, mas também compensar os produtores voltados ao mercado interno, reduzindo as vantagens que os concorrentes importados ganharam com o real valorizado em relação ao dólar.

Os empresários querem mais; na semana passada, o diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústria do Estado de São Paulo, Roberto Giannetti, teve encontros com autoridades em Brasília, e insistiu na necessidade de medidas para retirar o peso dos impostos sobre investimentos. Voltou a São Paulo esperançoso. "Com a carga tributária atual, alguns investimentos simplesmente não se realizarão. Não se pode falar em perda de receita nesses casos", argumenta.

Giannetti defende ação mais rápida do governo na redução de impostos sobre investimentos em infraestrutura, por exemplo, capazes de aumentar a competitividade de toda a indústria. O Ministério da Fazenda ainda não parece sensibilizado por esse raciocínio, porém, e a desoneração de investimentos, por enquanto, é apenas vontade.

No campo da defesa comercial, também, o novo governo tomou posse com planos ambiciosos, de reduzir a até dois meses os processos antidumping contra concorrentes, especialmente da Ásia, acusados de competição desleal. Haverá reduções de prazos, especialmente com a informatização dos processos, mas não será alterada a legislação, que atende às exigências da Organização Mundial do Comércio e estabelece prazos não inferiores a um ano para processos contra preços desleais nos importados.

A lei permite a aplicação de direitos (sobretaxas) antidumping provisórios, que podem, de fato ser adotados 60 dias após a abertura de investigações. Esse é um caminho estudado pelo Ministério do Desenvolvimento. A aplicação de direitos provisórios já vinha sendo usada, e tem limites, já que são medidas emergenciais, em caso comprovado de dano imediato à indústria. Não se deve esperar resultados muito significativos desse instrumento.

Uma semana antes do adiamento da reunião da Camex, o ministro Pimentel, amigo e interlocutor frequente de Dilma, ainda anunciava que ela seria realizada, e teria decisões importantes para a competitividade do comércio exterior brasileiro. É uma manifestação de empenho de Pimentel, mas são grandes, como tem constatado o ministro, os limites, financeiros, legais econômicos e políticos para medidas de resultado imediato e significativo. Boa parte da pauta de importações é reflexo das estratégias de produção das grandes multinacionais, e são importantes para preservar a competitividade das linhas de produção no país, ameaçadas pela persistência do real valorizado.

O adiamento da reunião da Camex e a dificuldade para contar com a presença da presidente da República mostram que, apesar do interesse em mudar a situação no comércio exterior, o governo se vê obrigado a reavaliar os planos que acalentava ao tomar posse, há menos de dois meses. Ressalta, também a dificuldade para reverter a perda de competitividade da indústria brasileira.

Sergio Leo é repórter especial em Brasília e escreve às segundas-feiras

 (Fontes: VALOR ECONÔMICO, OPINIÃO)

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