Microempreendedores fazem a diferença em Imperatriz e região

31-12-2011 09:14

Os novos empresários são pessoas da classe C, cuja ascensão econômica é resultado de um legado de trabalho duro, perseverança

Imperatriz - A história recente da economia do Maranhão pode ser contada em antes e depois da aprovação da lei que cria o empreendedor individual e da Complementar de ajuste à Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas. Ainda há muitas barreiras por serem superadas, mas as mudanças na legislação e o apoio de entidades como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) impulsionaram ainda mais o cenário de crescimento econômico maranhense.

Algumas regiões, como a sul e sudoeste do estado, levam vantagem por terem despertado interesse até de publicações nacionais sobre economia. Os novos empresários são pessoas da classe C, cuja ascensão econômica é resultado de um legado de trabalho duro, perseverança e, principalmente, coragem de enfrentar desafios.

Esse é o perfil de Maria Aparecida Lopes Carvalho, 32 anos, residente em Imperatriz. Sem formação profissional e desempregada, ela resolveu fazer pães caseiros vendidos de porta em porta pelo marido, também desempregado. Ela lembra que pediu emprestado o salário de sua mãe, com o qual quitou a casa onde moravam.

O restante do dinheiro foi investido na produção de cuscuz, bolo de milho e de macaxeira, beiju (tapioca) para o café da manhã, vendidos em casa e depois em uma praça perto de casa.

“A gente teve de inventar alguma coisa para fazer porque tínhamos duas filhas e contas para pagar, como a moto que ia ser devolvida para a loja, e nossa casa”, relembra.

No começo, a falta de estrutura para a produção era o principal problema. Com apenas uma forma, Maria Aparecida passava o dia inteiro para produzir apenas oito pães que eram vendidos em poucos minutos.

Depois, aproximadamente dois anos nessa atividade, desenvolvida até mesmo aos oito meses de gravidez da segunda filha, atualmente com 1 ano, ela se disse cansada de tanto esforço e pouco retorno, apesar de as contas terem sido todas pagas.

Depois desse tempo, Maria Aparecida investiu suas economias na compra de maquinário que permitiu a produção diária de 150 pães nos sabores leite, farinha de arroz, beterraba, carne de sol, camarão, frango e frutas cristalizadas, que eram vendidos “como água” no período da tarde.

A necessidade de recolher para Previdência, visando à aposentadoria e ampliação do negócio, fez a comerciante procurar a formalização. Com a aprovação da Lei do Empreendedor Individual, ela entrou para a história do setor ao virar a primeira empreendedora individual da segunda maior cidade do Maranhão.

Avanço - O sucesso na atividade fez a nova microempresária avançar ainda mais ao abrir a sua panificadora Pão da Cida, curiosamente o mesmo nome do pão caseiro onde tudo começou.

“Não posso deixar de fazer o pão porque tem boa aceitação. Foi o começo de tudo e quero dizer que até criei um novo sabor”, avisa a jovem empresária que, por questões óbvias, planeja cursar Administração em breve.

“Assim que a gente se legalizou, as portas se abriram, tivemos oportunidade de crédito e a orientação do Sebrae foi muito importante para que tudo chegasse até aqui”, reconhece Maria Aparecida. Ela diz que se prepara para atender médias empresas que estão chegando à região e ainda pretende instalar filiais, embora reconheça que isso ainda está distante.

Localizada no Bacuri, um dos bairros mais populosos da cidade, a Pão da Cida tem produção diária de 25 kg de pães de sal, cinco quilos de bolo e aceita encomendas para festas.

Exemplo - Como nem só de pão vive o homem, outro exemplo de superação é o ex-metalúrgico Antonio Pereira Silva, 38 anos, que ganhou notoriedade por fabricar churrasqueiras e talhadeiras (equipamento usado na construção civil) a partir de peças como amortecedores de automóveis inutilizados.

O homem de jeito simples tem por hábito cumprimentar a todos que o procuram como abençoado. Trata-se de um profissional que se ajusta às demandas do mercado de trabalho, característica que se convencionou chamar de “pau para toda obra”.

Natural de Imperatriz, Antonio Silva trabalhou por vários anos em indústrias de São Paulo - em uma delas produzia peças para carros de Fórmula 1 -, de onde retornou há seis anos.

Na cidade chegou a trabalhar em uma empresa para descobrir os meandros do mercado até tornar-se empreendedor individual há dois anos, negócio que acaba de resultar na micro-empresa Ferraria Forte.

“Já trabalhei para várias metalúrgicas, sempre presto serviços para empresas como a Quali, Guterres e Consórcio Maranhense. Sou soldador profissional e mecânico industrial, faço churrasqueiras, talhadeiras e adaptação de bagageiro para van e botei até um lanche ao lado da oficina para atender nossos fregueses enquanto aguardam o serviço”, anuncia Antonio Silva.

Meio ambiente - Apesar das múltiplas facetas, o carro-chefe de Antonio Silva é a churrasqueira em ferro maciço com garantia de um ano e talhadeiras produzidas com amortecedor de carros de ferros-velhos. Ele também anuncia com orgulho que a escolha de amortecedores de ferros-velhos como matéria-prima tem uma função nobre de colaborar com o meio ambiente.

Esse nicho de mercado já despertou a atenção de executivos do Sebrae que planejam divulgar o invento ecologicamente correto no programa Pequenas Empresas e Grandes Negócios, da Rede Globo.

“A gente se orgulha de fazer algo que é para preservar o meio ambiente”, ressalta o empreendedor, que não esquece do começo de dificuldades quando trabalhava em local alugado. Sua mãe foi quem pagou o primeiro aluguel do imóvel.

“Quando você começa, que não tem capital para você trabalhar, tudo se torna mais difícil. É certo o dito popular que afirma que quem tem dinheiro ganha dinheiro e quem não tem não ganha, mas superamos isso”, reafirma. A churrasqueira dele já foi divulgada em varias feiras nacionais graças ao apoio do Sebrae.

Para quem tem alguma dúvida sobre o que fazer, Antonio Silva diz que é preciso ficar atento ao mercado.

Leis estão impulsionando a economia do Brasil

Em todo o país, a aprovação da Lei Complementar que ajusta a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa (MPEs) foi um marco histórico no apoio à causa da micro e pequena empresa. Ela proporcionou a regulamentação de milhares de novas empresas.

O índice de micro e pequenas empresas atualmente corresponde a 98% do total de empresas do país, com movimentação de aproximadamente 20% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil e mais de 60% dos empregos formais, segundo informou o diretor da Unidade Regional do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae), em Imperatriz, Danilo Borges.

O Anuário do Trabalho na Micro e Pequena Empresa, publicado pelo Sebrae, em 2009, mostra que de 2000 a 2008 o número de organizações desse porte aumentou de R$ 4,1 milhões para R$ 5,7 milhões no Brasil, o que provocou crescimento de 30% na economia nacional.

No mesmo período, ainda segundo o documento, o número de carteiras assinadas passou de 8,6 milhões para 13,1 milhões, com inéditos 52% de aumento. No país existem 5,9 milhões de microempresas.

Na prática, a lei beneficia porque promove reajuste em 50% das faixas de enquadramento e do teto da receita bruta anual das empresas do Simples Nacional. Traduzindo em números, o teto de enquadramento do empreendedor individual ao Simples passa de uma receita anual de R$ 36 mil para R$ 60 mil. Da microempresa, pula de R$ 240 mil para R$ 360 mil por ano.

Já da pequena empresa, o valor do faturamento anual passa de R$ 2,4 milhões para R$ 3,6 milhões.

Projetos - Danilo Borges, do Sebrae em Imperatriz, atende a uma área de 20 municípios da região sudoeste do estado, também chamada de Região Tocantina. Em 2011, a carteira de projetos da Unidade Regional de Imperatriz apresentou 10 projetos direcionados aos segmentos econômicos em desenvolvimento na região, entre eles o comércio varejista, a indústria de alimentos (padarias e confeitarias) beleza, horticultores, projetos de Agentes Locais de Inovação (ALI) e ainda um projeto direcionado ao agronegócio, tendo as bacias leiteiras como destaque.

Sobre o empreendedor individual, Danilo Borges não esconde a alegria pela aprovação da lei. “A Lei Complementar nº128/08, que instituiu a figura do empreendedor individual trouxe benefícios nunca antes disponíveis ao trabalhador autônomo e proporcionou a criação de um ambiente de formalização único, simples e diferenciado”, ressalta o servidor.

Economista destaca a tendência da cidade em evoluir rapidamente

Prefeito Madeira diz que município está pronto para seguir o desenvolvimento

Imperatriz - O economista Robson Saraiva também vê com otimismo a Lei Complementar nº128/08. O especialista reforça que a maior parte do Produto Interno Bruto (PIB) de Imperatriz (cerca de 4,8%) vem do setor terciário e acompanha a tendência do nacional.

Segundo Saraiva, essas empresas geram emprego e renda para a população e arrecadação de impostos para o município em um cenário alvissareiro que não corre o risco de retroceder porque as empresas que quiserem acompanhar (e participar do crescimento da cidade) terão de estar formalizada.

O prefeito de Imperatriz, Sebastião Madeira, disse a O Estado que sua administração está atenta e apoia o crescimento e desenvolvimento econômico do município.

Madeira disse que o município é um dos poucos que aprovou a Lei da Microempresa, processo que o Sebrae pretende estender para outros municípios maranhenses em 2012.

Mais

Dados do Sebrae mostram que em Imperatriz a lei levou 2.900 empreendedores a se formalizarem desde a aprovação das duas leis. No caso do empreendedor individual, cada um vai recolher R$ 5,00 ao Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza (ISS) - para aqueles que trabalham com prestação de serviços -, tributo que será recolhido pela Prefeitura. Isso representa recursos que o Município não tinha nem previsão de receber. (Fonte: O Estado do Maranhão)

Contacto

Clipping

Av. Prof. Carlos Cunha, S/N, Edifício Nagib Haickel - Calhau.

(98) 3235-8621