Novo projeto torna a Fiat mais brasileira

15-12-2010 16:02

Já faz algum tempo que com uma única fábrica, em Betim (MG), a filial brasileira da Fiat Automóveis consegue produzir mais do que a própria matriz, com seis fábricas, na Itália. Mas agora, ultrapassar os limites da produtividade começa a se tornar um risco, principalmente diante do avanço da concorrência. Ontem, os italianos deram um salto maior ao anunciar um investimento de R$ 3 bilhões numa fábrica, em Pernambuco, que nascerá já grande, com capacidade para 200 mil carros por ano.

Inaugurada na década de 70, a fábrica de Betim fechará 2010 com a produção de 750 mil veículos. Isso significa uma média diária de 3 mil unidades - ou um carro novo a cada 20 segundos. O volume que a Fiat produz hoje no Brasil é um terço maior do que há três anos. E, por isso, consegue liderar o mercado brasileiro com escala e, consequentemente, lucratividade. A Volkswagen conta com três fábricas no país para alcançar este ano a produção de 832 mil veículos.

Com a previsão inicial de 3,5 mil empregos diretos, o empreendimento que será construído no complexo portuário de Suape conduzirá a Fiat à meta de alcançar a fabricação anual de um milhão de veículos por ano daqui a três anos. A solução também livra a empresa de ter de recorrer à fábrica em Córdoba, na Argentina, para aliviar o ritmo acelerado em Minas Gerais, onde opera em três turnos. É conhecido, no meio automotivo, o receio de seus dirigentes de investir demasiadamente na Argentina.

No caso, manter as linhas de Córdoba num ritmo menos acelerado e erguer uma nova construção no Nordeste brasileiro vale a pena, considerando, principalmente, o pacote de vantagens fiscais que o grupo italiano abocanhou. O investimento em Pernambuco contará com os benefícios do regime automotivo especial para o Nordeste, Norte e Centro-Oeste, em vigor desde sexta-feira. Por meio deles as empresas do setor instaladas nas regiões e que apuram IR pelo regime do lucro presumido podem utilizar até dezembro de 2020 os créditos de IPI acumulados para quitar outros tributos federais, como o PIS e a Cofins.

De acordo com fontes da montadora, o investimento em Pernambuco contará com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os volumes de recursos envolvidos estariam ainda em processo de negociação. Procurado, o banco de fomento informou, por meio de sua assessoria, que não iria comentar o assunto.

Ao anunciar o novo projeto, ontem à tarde, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), disse que tentará oficializar ainda este ano a doação do terreno de 4,4 mil hectares onde será construída a fábrica, para que possam ser iniciados os trabalhos de terraplenagem. Ele também pretende providenciar uma outra área, onde seria construída uma pista de provas para a montadora.

O político, aliás, foi bastante elogiado pelo presidente da Fiat para a América Latina, Cledorvino Belini. Segundo o executivo, a influência de Campos foi decisiva para a chegada da montadora a Pernambuco. "Sem seu empenho em transformar Pernambuco em uma das economias mais prósperas do Brasil, não haveria fábrica", afirmou.

Belini encontrou-se com Campos e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Salgueiro, município distante cerca de 500 km da área onde será erguida a segunda fábrica da Fiat. A ideia foi aproveitar a visita do presidente da República às obras de construção da ferrovia Transnordestina. Lula promete, no entanto, voltar à cena da festa em torno da chegada da primeira montadora em Pernambuco antes de seu mandato chegar ao final.

Nos próximos dias será marcada a data da celebração da pedra fundamental do empreendimento. Em princípio, seria no dia 29. Mas ontem a Fiat informou apenas que deverá ser depois do Natal.

As negociações com a montadora italiana começaram há cerca de oito meses, após um longo período de prospecções do governo de Pernambuco. Com a eclosão da crise econômica internacional, que afetou seriamente a indústria automotiva, em 2008, muitas das conversas acabaram esfriando. De acordo com fontes do governo pernambucano, houve negociações também com General Motors e Toyota, além das chinesas Cherry e BYD, entre outras.

Distante 60 km do Recife, o Complexo Industrial e Portuário de Suape é a principal vitrine da economia de Pernambuco, que cresce em ritmo superior ao do país e da própria região Nordeste. Nos últimos quatro anos, Suape atraiu projetos importantes, entre eles uma refinaria, dois estaleiros, uma petroquímica e, mais recentemente, uma siderúrgica.

Em meio aos interesses políticos e o avanço econômico de Pernambuco, o novo ciclo de investimentos do setor automotivo vive uma nova guerra fiscal. Para a Fiat, o importante é estar preparada para conseguir se manter na liderança de mercado, que já dura nove anos consecutivos. Como os demais fabricantes de veículos que anunciaram expansão industrial - como GM, Volks e Ford - os italianos se preparam para enfrentar a onda de investimentos de novas marcas, que vem também da China e da Coreia do Sul.

(Valor Econômico; Primeiro Caderno; Empresas- pág. 03)

 

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