Operários de Santo Antonio voltam ao trabalho

24-03-2011 11:13

 

Em assembleia realizada no início da noite de ontem na entrada do canteiro de obras, trabalhadores do período noturno aceitaram os benefícios oferecidos pela Odebrecht

Duas assembleias selaram ontem a retomada das obras no canteiro da usina Santo Antônio, em Rondônia. Os 16 mil operários da obra da Odebrecht aceitaram descruzar os braços a partir de hoje para recuperar quase uma semana de paralisação das atividades depois dos conflitos ocorridos na vizinha usina de Jirau, no rio Madeira.

Uma equipe de advogados trabalhistas da Odebrecht, enviada do Rio de Janeiro, aceitou ao menos quatro pontos "emergenciais" da pauta de reivindicação: a troca do atual plano de saúde SulAmérica por três opções; o pagamento de passagens aéreas nas folgas ("baixadas") de cinco dias concedidas a cada quatro meses; a troca da bandeira de um cartão de débito "prêmio"; e a melhoria na variedade e diversidade das refeições.

Embora tenham avançado agora, as negociações mais difíceis ainda estão por vir. E continuam a ameaçar a estabilidade do canteiro de obras. Uma assembleia geral convocada pelo sindicato da categoria para domingo, que marcará a campanha salarial de 2011, deve exigir da Odebrecht uma ginástica financeira ainda maior.

Em sintonia com a elevação do tom dos dirigentes nacionais da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da Força Sindical, os operários querem, no dissídio de maio, um reajuste salarial de 30% e a elevação da cesta básica de R$ 110 para R$ 300 pagos em "cartão benefício", aponta documento obtido pelo Valor. Além disso, querem reclassificação funcional, equiparação salarial, adicionais de insalubridade e periculosidade para todos e ajuda de custo para colegas de outras cidades. "Os trabalhadores aceitaram voltar. Depois, vamos colocar essas outras reivindicações para a empresa", desconversou o presidente do sindicato, Raimundo Soares da Costa.

A "pedida" do sindicato é considerada exagerada pela Odebrecht. Mas pode ajudar a livrar a cara dos seus dirigentes. Acusados de inação diante do sentimento de revolta dos operários das usinas, eles também sofriam ameaças da Odebrecht de acionar a Justiça do Trabalho para encerrar a paralisação. Como não havia pauta de reivindicação, a Justiça deu sinais de que declararia o movimento ilegal. Isso significaria cortes de salários e mais tensões para administrar.

O sindicato atua sob uma intervenção branca da direção da Central Única dos Trabalhadores (CUT). É uma tentativa de "blindar" a instituição da cobiça da Força Sindical, que briga na Justiça para retomar o controle de 40 mil operários e uma arrecadação estimada em R$ 1 milhão anuais. O caso está no Tribunal Superior do Trabalho (TST).

Para garantir legitimidade às exigências, os sindicalistas montaram ontem duas assembleias na entrada do canteiro de obras de Santo Antônio, a 20 quilômetros de Porto Velho. E para recuperar o terreno perdido nos episódios de Jirau, o sindicato colocou no papel uma extensa lista de reivindicações trabalhistas. Muitas delas, segundo avaliação interna dos dirigente, até poderiam aguardar a assembleia geral de domingo. Mas prevaleceu a pressão dos operários por resultados concretos e imediatos.

"Algumas coisas podiam esperar. Mas a pressão estava forte", confidenciou uma fonte sindical. Entre essas medidas, estão a instalação de mais lavanderias nos alojamentos, o uso de ônibus em casos grandes escadarias e a criação de banheiros "adequados" para mulheres.

Uma comissão de sindicalistas também esteve ontem no distrito de Jaci-Paraná, a 100 quilômetros da capital, para "inspecionar" as obras da usina de Jirau. Considerado o principal foco dos problemas urbanos e sociais da região, o povoado de 15 mil habitantes abriga quase 3 mil operários da Camargo Corrêa e de empresas subcontratadas para realizar as obras.

O clima no lugar ainda é incerto. Alguns operários reassumiram as funções básicas de limpeza e organização do canteiro, mas o grosso dos trabalhadores está longe da usina. "Fizemos inspeções nas obras e vimos problemas com trabalhadores", disse o secretário de Finanças da CUT, Vagner Freitas Moraes, enviado pela central para administrar a situação. O dirigente afirmou que "orientou" as empresas do consórcio Energia Sustentável, responsável por Jirau, a evitar procedimentos trabalhistas agora. "Alguns querem ser demitidos e outros querem ficar. A empresa não pode fazer nada agora", recomendou o sindicalista. Haverá uma assembleia com os operários da montagem da usina na próxima terça-feira. "E vamos procurar a Camargo para negociar todas as demais questões", informou Moraes. A principal delas certamente será a extensa, e onerosa, pauta de reivindicações salariais.

(Fonte: Valor Econômico, Brasil)

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