Petrobras adapta refinarias ao novo consumidor brasileiro

13-05-2011 15:53

 

Alta na produção de gasolina e de querosene de aviação força empresa a refinar menos nafta, matéria-prima do plástico

O crescimento da renda dos mais pobres em ritmo chinês, além da maior oferta de crédito nos últimos anos, tem permitido a milhões de brasileiros comprar o primeiro carro. Também faz disparar o número de passageiros de primeira viagem de avião. Cerca de 3 milhões de veículos engrossaram a frota nacional somente no ano passado, enquanto o número de pessoas que viajaram de avião superou o de transporte rodoviário em trajetos interestaduais – o que nunca tinha acontecido.

Os dados foram destacados pelo diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, em entrevista ao iG. O executivo acompanha com lupa os movimentos do mercado de combustíveis, já que a companhia responde por praticamente todo o abastecimento de derivados de petróleo. Sob pressão da demanda e no limite da sua capacidade de refino, a Petrobras está fazendo uma verdadeira ginástica para dar conta do aumento de dois dígitos no consumo de combustíveis no Brasil, expansão que vem ocorrendo desde o ano passado.

Neste ano, a entressafra do etanol e a consequente escassez do produto acirraram a procura por gasolina. Na hora de abastecer, motoristas trocaram o álcool, que ficou mais caro, pela gasolina. A empresa precisou importar gasolina, deixando para trás o status de exportadora do produto. De janeiro a maio deste ano, a estatal terá comprado no exterior quase o equivalente a tudo o que importou em 2010.

Táticas

O iG apurou outras táticas que vêm sendo adotadas pela Petrobras para acompanhar a disparada do consumo de gasolina, querosene de aviação e óleo diesel – combustíveis que crescem mais em procura do que a economia brasileira. As refinarias estão sendo adaptadas para ter mais flexibilidade na escolha dos produtos que serão feitos a partir do petróleo.

Parte da produção de nafta petroquímica, matéria-prima do plástico, está dando lugar ao refino de gasolina, querosene de aviação e óleo diesel. Na Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), no Rio, a produção de gasolina em 2011 cresceu 25%, enquanto a de nafta recuou de 20% a 30%. A redução na produção de nafta tem obrigado as centrais petroquímicas a buscar o produto no exterior.

A troca de nafta por gasolina na Reduc permitiu um acréscimo da ordem de 1 milhão de barris do combustível em 2011 – o mesmo volume de gasolina que deverá ser importado até o final deste mês pela Petrobras. Entre março e abril, a estatal trouxe cerca de 1,5 milhão de barris de gasolina do exterior.

O óleo combustível também está perdendo terreno na produção da Petrobras. Normalmente, o produto é o que sobra do petróleo depois do processo de destilação. Nesta primeira etapa do refino, o petróleo é aquecido a uma temperatura de 360°C. As partículas mais leves se transformam em Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), nafta, gasolina e óleo diesel, entre outros derivados considerados médios ou leves. As moléculas mais pesadas se transformam em óleo combustível ou são novamente quebradas para virar combustíveis mais nobres.

Uma parte das partículas mais pesadas separadas na destilação do petróleo é aquecida novamente, a uma temperatura ainda maior (530°C), e submetida à ação de catalisadores, num processo conhecido como craqueamento, que produz mais gasolina. O outro montante de partículas que resta da destilação, que naturalmente seria óleo combustível, é direcionado à unidade de coque, uma unidade relativamente nova na história das refinarias brasileiras.

Na Reduc, esta nova unidade começou a produzir óleo diesel em 2009 e na Relan, na Bahia, no ano passado. O processo de quebra das partículas de derivados é semelhante aos demais, mas neste caso resulta também na produção do coque , além do diesel e de outros derivados. O que não é aproveitado como combustível vira coque, matéria-prima usada na indústria cosméticos para fazer sabonetes e cremes e pelas siderúrgicas, na produção de ferro e alumínio.

“Destruímos o óleo combustível ao quebrarmos suas moléculas pesadas e produzimos mais derivados médios, como querosene de aviação, da gasolina diesel”, explica o diretor da Petrobras. A procura por diesel no País também vem crescendo, mas num ritmo menor que o de gasolina e querosene de aviação.

Recordes

Em 2011, o aumento médio da produção de querosene de aviação, combustível das aeronaves, é da ordem de 13% em relação ao volume do ano passado. Já o de gasolina, considerando a média anual, é de 9,5%. No primeiro trimestre, a produção de gasolina da Petrobras foi 4,5% maior que no mesmo período do ano passado. “É um número muito alto, considerando uma base bastante elevada. Batemos recorde todo mês no patamar de produção”, conta o executivo.

Costa afirma que a redução da produção de óleo combustível, usado como fonte de energia nas fábricas, não afeta a indústria porque está sendo substituído pelo gás natural. “O consumo de óleo combustível está recuando mesmo, por causa do gás natural, e nós já vínhamos tendo de exportar o produto”, afirma o executivo.

As vendas de combustíveis no ano passado cresceram 13% em relação a 2009, com salto de 17% da gasolina. O faturamento com querosene de aviação subiu 19%. O consumo de óleo diesel, produto que mais pesa no faturamento da Petrobras, aumentou 9%. Refletindo os números, a receita líquida da empresa passou de R$ 183 bilhões para R$ 213 bilhões entre 2009 e 2010.

Projetos atendem ao mercado?

Com 12 refinarias, a Petrobras tem capacidade para produzir 1,9 milhão de derivados por dia. Com quatro novos projetos, será possível processar mais 1,35 milhão de barris diários, a partir de 2018. A capacidade será suficiente para abastecer o País se a economia crescer até 4,5% ao ano. “É possível que cresça mais. Se crescer mais, vai aumentar a demanda. O que eu tenho hoje no plano de negócios são esses projetos; é o planejamento aprovado. No plano que estamos fechando agora não tem novas refinarias”, afirma Costa.

“Eu fui muito criticado por propor novas refinarias e daqui a dois, três, anos, vão dizer que a decisão mais correta da Petrobras foi essa”disse, sobre os novas refinaria: Abreu e Lima, em Pernambuco; Comperj, no Rio de Janeiro; e duas refinarias premium, uma no Ceará e outra no Maranhão. (Fonte: Portal iG)

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