Petrobras vai carregar déficits até julho de 2013

14-03-2012 11:53

Paulo Roberto Costa, diretor de abastecimento: “Eu ainda vou ser criticado no futuro por ter sido tímido na quantidade de refinarias projetadas”

O déficit no abastecimento da Petrobras, consequência da baixa capacidade de refino da estatal em relação ao aumento do consumo de derivados de petróleo líquidos, veio para ficar e tende a ser crescente até que ela comece a operar suas novas refinarias, a partir de julho de 2013. O diretor de abastecimento da empresa, Paulo Roberto Costa, disse ao Valor que este ano as 12 refinarias que opera no país irão bater recorde de utilização da capacidade - 92,9%, ante 90% em 2011. Mesmo assim, a previsão é importar 80 mil barris de gasolina e 160 mil de óleo diesel neste ano.

"Eu ainda vou ser criticado no futuro por ter sido tímido na quantidade de refinarias projetada", disse Costa, ironizando o fato de até recentemente ter recebido críticas porque a Petrobras estaria gastando demais na construção de quatro refinarias para elevar a atual capacidade de refino de petróleo de 1,9 milhão de barris por dia para 3,25 milhões. A primeira unidade a entrar em operação, com pelo menos seis meses de atraso em relação ao último cronograma (final de 2012), será a Abreu e Lima, em Pernambuco, prevista agora para julho de 2013. Quando concluída, irá processar 220 mil barris de óleo por dia.

Também com atraso, de aproximadamente um ano, o executivo diz que a primeira das duas unidades do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), cada uma com capacidade nominal de 165 mil barris/dia, começa a operar em outubro de 2014. No caso da Abreu e Lima, ele atribui o atraso às chuvas excessivas do ano passado e aos movimentos grevistas dos operários da construção.

No Comperj, diz, o atraso se deve à decisão da Petrobras de construir e operar a unidade de utilidades (energia elétrica, água e vapor) em vez de entrega-la a terceiro, como era originalmente. A segunda parte do Comperj só deverá ficar pronta em 2019. As outras duas refinarias, as chamadas "premium", no Maranhão e no Ceará, estão previstas para 2016 e 2017, respectivamente, mas há problemas.

Enquanto no Maranhão o terreno já se encontra em fase de terraplenagem, no Ceará a cessão da área pelo Estado segue embargada. O governo cearense negocia com comunidades indígenas originalmente ocupantes do local escolhido para abrigar a refinaria. A do Maranhão será a maior unidade de refino do Brasil, com capacidade de 600 mil barris ao dia. Deve entrar no mercado, em etapas de 300 mil barris cada - uma em 2016 e outra em 2018.

Com a conclusão das quatro refinarias, a Petrobras, detentora do monopólio de fato do refino no Brasil, entrará em 2020 com capacidade nominal de 3,25 milhões de barris de óleo por dia. Estará na linha do consumo: entre 3,2 milhões e 3,4 milhões de barris de derivados, considerando uma média anual de crescimento do PIB de 3,5%, número considerado conservador por Costa.

Como a capacidade nominal do conjunto das refinarias nunca é alcançada, a próxima década já vai começar com déficit. Costa, no entanto, não fala na construção de novas unidades porque até o momento não há nada previsto no plano estratégico da empresa. Ele disse apenas que no Brasil, o tempo entre a decisão de construir e a construção de uma unidade de refino nunca é inferior a sete anos.

O diretor disse que o crescente descolamento entre a capacidade de refino da Petrobras e o consumo de derivados líquidos deve-se a vários fatores, começando pela entrada no mercado de um grande contingente de pessoas, a chamada nova classe média. Segundo Costa, até 2009 o consumo de derivados crescia sempre em linha ou abaixo da elevação do PIB. Em 2010 o crescimento pela primeira vez foi maior, chegando a 9% contra 7,5% da economia.

Em 2011, o consumo de derivados líquidos foi de 8%, ante um PIB de 2,7%. Para este ano, a previsão é de que o consumo cresça 12% enquanto a previsão para o PIB está na faixa de 3,5%. O consumo de gasolina cresceu 18% em 2010, chegou a 24% em 2011 e alcançou 32% em janeiro e fevereiro.

Costa avalia também que a oferta de etanol, uma das causas da pressão sobre o consumo de gasolina (o preço do etanol não está convidativo para os proprietários de veículos flex), só começará a se reequilibrar a partir de 2014. Hoje, de acordo com o executivo, o Brasil está importando 15% dos derivados que consome.

Costa garantiu que, afora os atrasos já mencionados, as obras das refinarias estão sendo tocadas todas dentro dos prazos previstos, conforme avaliações feitas trimestralmente. Ele pontuou que o rigor com os prazos e os custos já vinha sendo praticado e será ainda mais intensificado, agora, na nova gestão da estatal, a cargo de Maria da Graças Foster, que assumiu a presidência.

O executivo afirmou ainda que a entrada da estatal venezuelana no capital da refinaria Abreu e Lima (40%), conforme previsto em acordo, segue indefinida, mas não está atrapalhando o andamento da obra. "Se eles entrarem, no momento que entrarem serão bem-vindos", resumiu. (Fonte: Valor Econômico)

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