Pinhão manso move projeto de empresa americana no Brasil

26-01-2011 17:04

 Fernando Lopes | De São Paulo

 O potencial de crescimento do cultivo de pinhão manso para a produção de biodiesel no Brasil atraiu o interesse da companhia americana de biotecnologia SG Biofuels, criada há menos de dois anos e que já iniciou o processo para instalar operações no país.

A procura por uma sede administrativa na capital de São Paulo, a prospecção de regiões para a instalação de fazendas experimentais e a seleção de executivos e pesquisadores vêm sendo conduzidas por Fernando Reinach, um dos maiores especialistas em biotecnologia agrícola do Brasil.

Como diretor-executivo da Votorantim Novos Negócios entre 2001 e 2010, Reinach ajudou a fundar a Alellyx, em 2002, e a CanaVialis, em 2003. Com foco no melhoramento genético de culturas agrícolas como laranja, eucalipto e cana-de-açúcar, ambas foram vendidas em 2008 à multinacional Monsanto.

Com a desistência do grupo Votorantim de atuar nessa frente, Reinach passou a se concentrar na Amyris, também americana, que desenvolve novos combustíveis, está presente no Brasil e na qual ocupa uma cadeira do conselho de administração da matriz, localizada na Califórnia.

A experiência à frente da Votorantim Novos Negócios e os ventos californianos levaram Reinach à SG Biofuels, cuja sede também está situada no Estado americano. Mas nessa companhia, esclarece o brasileiro, sua cadeira está no conselho consultivo, não no administrativo.

Como a Alellyx e a CanaVialis, a SG também foi arquitetada por cientistas e pesquisadores, nesse caso especializados no desenvolvimento de sementes de pinhão manso - ou "jatropha", nome científico da planta e como esta é conhecida nos EUA. E se as brasileiras foram turbinadas pela Votorantim Novos Negócios para se desenvolverem, a americana contou com uma injeção inicial de US$ 9,4 milhões de fundos americanos de capital de risco.

Ainda que tenha sua sede na Califórnia, a SG concentra seus trabalhos de campo em Honduras, onde estão sendo testadas e coletadas variedades de pinhão manso que alimentam o banco de germoplasma da companhia. Esse banco guia os cruzamentos de variedades em busca de plantas mais produtivas, uma necessidade quando se pensa na produção de biodiesel a partir dessa matéria-prima.

"A empresa já tem um banco de germoplasma grande. Quando se faz esse trabalho desde o início, os ganhos são rápidos. É diferente de culturas como soja [principal fonte para a produção de biodiesel no Brasil] ou milho, por exemplo, para as quais muito já foi feito e os ganhos hoje são mais lentos", diz Reinach.

O pinhão manso é um "primo" da mamona. Pertencem à mesma família (euforbiáceas), é nativo do Brasil e, como o parente mais famoso no país, é uma planta rústica que cresce em qualquer lugar. Dependendo das condições naturais, pode chegar a 3 metros e durar 40 anos. Mas carece de produtividade. Como a mamona, que nem com subsídios e o apoio do ex-presidente Lula deslanchou como fonte para o biodiesel, cujo mercado é crescente no país.

"Em compensação, é o 'bode das plantas'. Em áreas nas quais nada dá certo, pode se transformar em opção de renda em pequenas e médias propriedades". Não por acaso, Reinach prospecta regiões de cultivo no Semiárido nordestino. Segundo ele, a SG não estabeleceu metas para a velocidade de sua expansão no país.

Como a questão da produtividade não depende só da frente agronômica, a companhia estabeleceu uma parceria com a Bunge nos EUA em busca de uma maior eficiência também no esmagamento. O pinhão manso produz uma frutinha parecida com uma azeitona, e é do esmagamento dessa frutinha que se obtém o óleo - não comestível - para a fabricação de biodiesel.

O plantio de pinhão manso ocupa pouco mais de 20 mil hectares no Brasil, ante os quase 200 mil da mamona e os 24 milhões da soja, carro-chefe do agronegócio nacional e principal fonte do biodiesel nacional. Sendo assim, a SG pensa em expandir seus negócios no país com parcerias com produtores. Reinach realça que, por não produzir óleo vegetal comestível, o pinhão manso escapa da "disputa" entre alimentos e energia por matérias-primas. Esse debate ganha importância em tempos de alimentos caros. Nos EUA 40% da safra de milho já vira etanol.

 (Fontes: VALOR ECONÔMICO, AGRONEGÓCIOS)

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