Prazo para instalação de fábrica até novembro é curto, dizem analistas

14-04-2011 15:50

 

Apesar de toda comoção gerada com o anúncio de que a Foxconn planeja investir US$ 12 bilhões no Brasil em um período de seis anos, restam mais dúvidas do que certezas sobre os planos da empresa para o Brasil.

A própria companhia evita fazer comentários sobre o assunto. "A política da Foxconn é de só fazer anúncios após a aprovação de nosso conselho de diretores e das autoridades relevantes", informou a companhia em comunicado.

Pelas declarações do ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, é possível avaliar que a companhia tem dois projetos para o país. Em um primeiro momento estaria a fabricação do tablet iPad, da Apple. De acordo com Mercadante, a Foxconn tem intenção de começar a produção do dispositivo no país em novembro.

O prazo de pouco mais de seis meses é muito curto para a instalação de uma nova fábrica, mas seria totalmente possível de ser cumprido caso uma das cinco plantas da Foxconn em atividade no Brasil fosse usada. Outra iniciativa seria a produção de telas sensíveis ao toque e a construção de uma "cidade inteligente", com capacidade para abrigar 400 mil pessoas.

Na avaliação do analista da Frost & Sullivan, Fernando Belfort, pode-se incluir na conta investimentos para aumentar a produção de computadores e smartphones. "Os mercados brasileiro e da América Latina têm as melhores perspectivas de crescimento nesses setores atualmente", diz Belfort.

Assim como outros especialistas consultados pelo Valor, Belfort diz acreditar que o valor anunciado na terça-feira é bastante alto. Independentemente de ser realizável, ou não, o analista considera que a intenção da companhia de aumentar sua presença no país é muito positiva. "É mais um exemplo de como o Brasil se tornou uma vitrine internacional", diz.

Além do bom desempenho da economia brasileira, os planos da Foxconn para o Brasil estariam ligados aos aumentos nos custos da mão-de-obra [embora no Brasil sejam muito mais altos] e ao ganho de poder dos sindicatos na China. Esses fatores estariam fazendo com que fabricantes começassem a procurar outros mercados.

No Brasil desde 2005, a Foxconn vem aumentando seus investimentos no país. Em seis anos, construiu cinco fábricas e está ampliando suas atividades em Jundiaí, interior de São Paulo. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos local, no começo do ano a empresa deu férias coletivas a parte de seus funcionários para realizar obras de aumento na capacidade de produção de uma das duas fábricas instaladas na cidade. A expectativa é de que a ampliação comece a gerar resultados ainda neste mês.

Com a forte demanda do mercado interno, a companhia estaria chegando ao ponto de perder contratos. No ano passado, teria perdido um projeto da Hewlett-Packard (HP) porque suas linhas estavam ocupadas com outros pedidos. Para evitar problemas assim, a Foxconn se aproximou da prefeitura de Jundiaí este ano, demonstrando interesse em montar uma nova fábrica na cidade. A assessoria de imprensa da companhia no Brasil não soube informar se esse projeto estaria ligado aos investimentos anunciados terça-feira, na China.

De acordo com o Sindicato, a situação dos trabalhadores em Jundiaí é bem diferente da relatada por funcionários da empresa na China. "Houve até distribuição de bônus no fim de 2010, no Brasil", diz um dirigente. Nos últimos dois anos, a imagem da Foxconn foi abalada por uma série de suicídios de funcionários na China, atribuídos à pressão e às péssimas condições de trabalho. Segundo relatos, os funcionários recebiam menos de US$ 300 por mês por turnos de 12 horas. Em 2009, um trabalhador cometeu suicídio por ter perdido o protótipo do iPhone que seria lançado no ano seguinte.

Para conter a onda de suicídios, o executivo-chefe e fundador da companhia, Terry Gou, anunciou medidas como o aumento dos salários e a contratação de psicólogos para atender os funcionários. A companhia chegou até a contratar a Disney para promover desfiles dentro das fábricas para entreter os trabalhadores.

Com dezenas de milhares de trabalhadores, as fábricas da Foxconn na China são como cidades. Para aumentar a produtividade, a companhia oferece moradia, alimentação e até lazer em suas unidades. "São instalações com a segurança do Pentágono e o poder produtivo de um Estado", diz Belfort. (Fonte: VALOR ECONÔMICO, EMPRESAS)

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