Shopping da Ilha, confusões e trapalhadas

25-12-2011 16:04

Fim de ano é tempo de festa, risos, celebração, compras, troca de presentes, planos e sonhos. Para os consumidores de São Luís, que esperavam ávidos pela abertura de um novo centro comercial, a época talvez vá ficar marcada por um sentimento menos luminoso. A inauguração do Shopping da Ilha tinha tudo para ser um grande acontecimento. Mas, ao contrário das previsões, acabou se transformando num episódio lamentável, desses que se prefere esquecer, para não ter que lastimar, sempre que invocada a sua lembrança.

O grupo Sá Cavalcante anunciou o novo shopping de São Luís como o maior e mais luxuoso da cidade. Desde o início de sua construção criou-se uma enorme expectativa em torno do empreendimento, cuja inauguração foi marcada, inicialmente, para o dia 30 de novembro de 2011. Os lojistas que compraram espaços no projeto asseguram que a construtora jamais aventou a possibilidade de que houvesse atraso no cronograma da obra.

Mas o ritmo aparentemente lento no canteiro de obras do Maranhão Novo sinalizava descompasso entre planejamento e execução. E isso ficou evidente quando o mês de novembro passou e o shopping permaneceu inacabado. Remarcaram a inauguração para o dia 13 de dezembro, mas a essa altura o que era dúvida virou certeza: a promessa não se cumpriria, mesmo com as obras varando a madrugada. Uma semana antes de completar o prazo um novo anúncio empurrou a data festiva para 20 de dezembro.

Até uma pessoa leiga sabia que, pelo estágio das obras e pelo tamanho do projeto, o Shopping da Ilha levaria pelo menos dois ou três meses mais para ser entregue. No entanto, a pressão pelo cumprimento dos prazos, o prejuízo dos lojistas com o encalhe dos estoques e a ânsia por fazer retornar o investimento aplicado, levaram a Sá Cavalcante a 'inaugurar' uma obra incompleta.

No dia da abertura o shopping mais parecia um canteiro de obras, com entulho por todos os lados, montes de barro, tapumes dispersos a esmo, operários em atividade, andaimes e guindastes. Num gesto temerário, liberaram a entrada principal do prédio, guarnecida por uma torre projetada para 15 andares, ainda em plena construção, criando uma situação de altíssimo risco.

No interior da estrutura, mais desorganização. Os sinais de obra em fase de acabamento dominavam a paisagem, com as escadas de concreto inativas, entulho, poeira e cheiro forte de cola e tinta a exalar pelo espaço. Pior foi a inércia do sistema de ar refrigerado, que obrigou os consumidores a enfrentar forte calor. Nas poucas lojas abertas, os vendedores, com o suor escorrendo pela face, improvisavam leques de papelão para se refrescarem.

Diante de tanta promiscuidade e falta de respeito com os clientes, uma questão saltou aos olhos: a escandalosa omissão dos órgãos responsáveis pela fiscalização de obras físicas desse porte. O CREA/MA, o Corpo de Bombeiros, o Ministério Público e a própria Câmara Municipal fecharam-se em pesado silêncio. Não deram entrevistas, não expediram nota. Não fizeram absolutamente nada, mesmo diante dos protestos estampados nas redes sociais e nos blogs de informação. É como se, de repente, a sociedade se visse desprotegida ou mesmo órfã dos seus organismos de representação.

Em contrapartida, o Shopping da Ilha parece ocupado por ilustres parceiros. Uma das grifes de roupa mais conhecidas do país estampa a fachada da loja do filho do prefeito João Castelo. Outra, do setor de fastfood, pertence a um membro da família Sarney, o mesmo que já é dono de outra loja, da mesma marca, no shopping Rio Anil.

Em que pese os percalços, na pré-inauguração o prefeito João Castelo, mesmo de terno e gravata e em meio a um calor infernal, não parecia nem um pouco incomodado. Chegou a posar para os fotógrafos todo sorridente, ostentando um cocar do Bicho Terra, ao lado de José Pereira Godão, de Pergentino Holanda e de Walter Sá Cavalcante, um dos donos da construtora responsável pelo shopping.

Os lojistas é que pareciam nada satisfeitos. Gastaram muito dinheiro, programaram-se para vender seus estoques durante o mês de dezembro, e agora vão ter que amargar prejuízos. Pelo menos dois deles prometem ingressar na justiça contra o shopping, requerendo ressarcimento por danos materiais. É uma pendenga que deve se arrastar por anos a fio. Até hoje tramitam no STJ processos contra o shopping São Luís, que remontam à data de sua inauguração.

Apesar do coro dos descontentes, o grupo Sá Cavalcante jamais se pronunciou sobre os atrasos nas obras do shopping . Releases publicados na mídia retrataram a inauguração como um evento magnífico e coroado de êxito. Uma postura no mínimo infeliz. Quem quer conquistar clientes precisa tratá-los bem e agir com transparência, ainda mais num mercado já saturado pela concorrência. O Shopping da Ilha abriu suas portas com o pé esquerdo. Na linguagem dos supersticiosos, isso se chama mau agouro. Que a água benta trazida de Fátima (Portugal) dissipe as nuvens sombrias. (Fonte: Jornal Pequeno)

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