Sócios buscam despolitizar sucessão na Vale

07-01-2011 16:53

Vera Saavedra Durão e Cristiano Romero | Do Rio e de Brasília

Em março, a quatro meses de completar dez anos à frente da Vale, Roger Agnelli, presidente executivo da companhia, não terá o mandato renovado. O Valor apurou que o sentimento dos sócios da multinacional é o de que Agnelli já esgotou um ciclo na mineradora. E ele será substituído dentro de um processo normal e apartidário, a partir da busca de um novo executivo de porte profissional, originário do mercado e capaz de continuar agregando valor à Vale, como ocorre em qualquer grande companhia global privada.

A preocupação maior dos acionistas da companhia - principal produtora mundial de minério de ferro e segunda mineradora em valor de mercado - é que a sucessão de Agnelli não seja politizada. Os controladores querem evitar que a troca de comando provoque um impacto negativo na imagem e, portanto, nas ações da empresa.

A Vale é hoje uma multinacional globalizada com papéis listados nas bolsas de São Paulo (Bovespa), Nova York (NYSE), Latibel ( Madrid) e Hong Kong (China). Nesta última, é a única representante brasileira.

Pelo menos cinco nomes para substituir Roger Agnelli têm circulado nos bastidores das negociações entre os acionistas da mineradora. Todos são altos executivos: Rossano Maranhão (presidente do banco Safra, que já foi presidente do Banco do Brasil); Octávio Azevedo (presidente executivo da Andrade Gutierrez); Fábio Barbosa (presidente do Conselho de Administração do banco Santander); Wilson Brumer (presidente da Usiminase ex-presidente da Vale, há 18 anos) e Luciano Coutinho (presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Todos são bem conhecidos do mercado. Azevedo estaria sendo indicado por fundos de pensão.

A lista dos cotados ainda pode crescer, pois as conversas entre os sócios ainda estão em fase de aquecimento. Os acionistas controladores da Vale - Bradespar, a trading japonesa Mitsui, BNDESPar(braços de participações do BNDES, Elektron (grupo Opportunity e Litel Participações (que reúne os fundos de pensão Previ, Petros, Funcef e Funcesp) - ainda não chegaram a um entendimento porque não houve tempo hábil para discutir o assunto. A única definição, embora ainda não-oficializada, é que Agnelli será substituído.

Um ator importante nas discussões é o governo federal por causa da presença do braço investimentos em participações acionárias do BNDES (a BNDESPar) e dos fundos de pensão controlados por empresas estatais na Valepar, holding que congrega o grupo controlador da Vale. Como a presidente Dilma Rousseff tomou posse há poucos dias, o assunto ainda não chegou a Brasília.

A possibilidade de uma solução interna para comandar a companhia está afastada. No fim do ano passado, quando o assunto da troca de comando na Vale começou a ser tratado, circulou na imprensa a notícia de que Tito Martins, diretor-executivo da área de metais não ferrosos, iria para o lugar de Agnelli. A ideia não vingou.

"Agnelli não deixa sucessores porque não se preocupou em prepará-los. Hoje, não existem grandes nomes internos na Vale capazes de assumir a função, pois aqueles que podiam competir com Agnelli foram defenestrados por ele", lamenta uma fonte graduada.

A escolha do substituto de Agnelli seguirá todo um ritual determinado pelo acordo de acionistas da Vale, firmado em 1997, logo após sua privatização. Na cláusula VIII desse acordo, que versa sobre eleição da administração da companhia, o parágrafo 8.3 reza que "o diretor-presidente da Vale será selecionado entre os nomes propostos em lista tríplice elaborada por empresa internacional de seleção de executivos (head hunter) e eleito em reunião do conselho de administração da Vale, convocada para tal fim e precedida de reunião prévia".

É preciso ter 67% dos votos dos acionistas controladores dentro da holding controladora da empresa, a Valepar, para eleger (ou trocar) o principal executivo da companhia. Em geral, porém, a escolha do principal executivo é feita por consenso, como foi o caso do próprio Agnelli, eleito para a função em julho de 2001.

O tema da troca de comando não consta da pauta da primeira reunião de 2011 do Conselho da Vale, marcada para o dia 17 de janeiro. O assunto poderá ser decidido, no entanto, em reunião extraordinária. O contrato de Agnelli se encerra daqui três meses, mas nada impede que ele seja substituído antes desse prazo.

 (VALOR ECONÔMICO; ED: 26669; EMPRESAS; VALE)

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