Vale nega calote; WO diz que foi vítima que foi vítima

27-02-2011 21:32

A relação da Vale com seus fornecedores no Maranhão, vista como sinônimo de parceria bem-sucedida, de apoio às empresas locais, foi colocada em xeque baseada em revelações da WO Engenharia de que a companhia estaria descumprindo contratos, dando “calote” e “quebrando” contratadas no Maranhão e no Pará. A mineradora, no entanto, refuta as acusações, enquanto a WO Engenharia mantém as denúncias. O assunto saiu da seara empresarial e ganhou repercussão na Câmara Federal e na Assembléia Legislativa.

A cisão das relações de parceria comercial entre a Vale e a WO teve como nascedouro contratos firmados em maio de 2010 para a execução de obras ao longo da Estrada de Ferro Carajás, nos trechos de Alto Alegre, no Maranhão, a Marabá, no estado do Pará. De um lado, a empresa maranhense diz que não recebeu pelo que produziu, e, do outro, a mineradora alega que a WO foi quem deixou de cumprir os termos do contrato.

De acordo com o diretor-presidente da WO Engenharia, Osmar Fonseca dos Santos, o calote que a Vale deu à empresa chega a mais de R$ 30 milhões, resultando na demissão de 2.800 trabalhadores no canteiro de obras da empresa no Maranhão e Pará.

Osmar dos Santos revelou que os quatro contratos para as obras da EFC (terraplenagem, construção de canaletas, colocação de bueiros, etc) foi assinado entre a WO Engenharia e a Vale, equivaliam ao valor de R$ 63 milhões, além de um aditivo de R$ 14 milhões. Mas ele afirma que a empresa recebeu apenas R$ 18 milhões, desde o início das obras até novembro do ano passado.

A WO Engenharia, que atua há 22 anos no mercado, nas áreas de construção civil e proteção anticorrosiva (pintura industrial), acusou a Vale de glosar as medições relativas às obras executadas. “Apresentávamos nossas medições, com o respectivo valor, mas a Vale autorizava outro valor, muito menor”, frisou Osmar dos Santos. Segundo o empresário, houve situação em que a WO apresentou medição de R$ 1,5 milhão e a Vale só autorizou R$ 50 mil.

Ele disse que por várias vezes chegou a discutir com o setor na Vale responsável por homologar as medições apresentadas pela WO Engenharia. Mas a mineradora nunca teria apresentado documento comprovando que a empresa fornecedora errou nas medições.

Diante desse impasse e sem receber o que disse ter direito, a WO Engenharia só teve fôlego financeiro até 5 de novembro de 2010, quando o fluxo de caixa começou a dar sinais de que a empresa não teria como bancar os investimentos feitos na mobilização dos serviços (equipamentos, pessoal) e honrar compromissos com seus fornecedores.

Como efeito cascata dos problemas criados nesses quatro contratos, a WO Engenharia alegou que acabou perdendo outros negócios com a própria Vale e com outras empresas. O prejuízo estimado pela perda desses contratos é de mais de R$ 100 milhões. “Para saudarmos as dívidas com nossos fornecedores, estamos nos desfazendo de bens móveis e imóveis”, observou Osmar dos Santos.

E que também estaria com todos os seus equipamentos e até mesmo os contratados a terceiros retidos pela Vale nos canteiros de obras no Maranhão e Pará. A WO informou que está acionando a Justiça para garantir a liberação dos equipamentos.

Mineradora afirma que apóia fornecedores locais

Munida de farta documentação e de dados, a Vale refuta as acusações de que estaria dando calote nas empresas maranhenses e demonstra em números o quanto tem incentivado a economia do estado. “Como estamos quebrando empresas, se somente em 2010 investimos R$ 1,8 bilhão em compras de materiais e serviços, e 57% desse montante foi destinado às empresas locais?”, questionou o diretor de Logística Norte, Luiz Fernando Landeiro Júnior.

Segundo Landeiro, de 2010 para 2009, houve um incremento de 54% no volume de compras da Vale no mercado maranhense. A internalização desse recurso atendeu em 73% as empresas que integram o Programa de Desenvolvimento de Fornecedores Locais (PDF), do qual a WO faz parte.

O diretor da Vale explicou que as duas empresas mantêm 22 contratos ativos, no Maranhão e Pará, no valor global de R$ 198,1 milhões. Desse montante, R$ 90,8 milhões já foram pagos, restando um saldo a executar de R$ 105,3 milhões.

No caso específico dos contratos de integridade da Estrada de Ferro Carajás, que se referem às denúncias da WO, estes seriam em número de sete, no valor total de R$ 79 milhões. A Vale informou que efetivamente foram pagos R$ 16,6 milhões à empresa, correspondente ao que produziu entre maio e novembro de 2010. Restou um saldo de R$ 62 milhões a executar.

De acordo com a Vale, durante esse período, a WO é quem não estaria cumprindo os contratos, que pela evolução físico-financeira deveriam ter chegado a uma medição de 99% em janeiro deste ano, mas só atingiu 18%. Desempenho ruim que teria como fatores atraso na mobilização de mão-de-obra e de equipamentos, irregularidades no apoio às frentes de serviços, falta de insumos, entre outros.

Esses problemas verificados na execução dos contratos de integridade da Ferrovia de Carajás rendeu à WO Engenharia várias notificações por parte da Vale, muitas das quais resultaram em aplicação de multas.

Crise entre Vale e WO teve início em novembro de 2010

A crise entre Vale e sua fornecedora teve início em novembro, quando a WO Engenharia apontou os contratos da EFC como causadores do seu desequilíbrio econômico-financeiro. A mineradora afirmou que, a partir daí, disse ter buscado resolver o impasse e manter a parceria com a empresa.

Com o atraso no pagamento de salários, em 14 de dezembro de 2010, os trabalhadores contratados pela WO ameaçaram interditar a ferrovia. Fato que se consumou em 12 de janeiro deste ano e se repetiu cinco dias depois. A Justiça do Trabalho de Parauapebas (PA), então, determinou que a Vale efetuasse o pagamento de salários e rescisões dos trabalhadores da WO.

Luiz Landeiro frisou que se alguém está devendo é a WO, pois, além dos R$ 3,8 milhões que a Vale teve que pagar aos seus empregados, teria adiantado quase R$ 10 milhões à empresa para garantir a mobilização de pessoal e equipamento no início do contrato.

Sobre a denúncia da WO de que seus equipamentos teriam sido retidos pela Vale, Luiz Landeiro assegurou que estes não mais estão em canteiros de obra da mineradora. Ele disse que apenas um caminhão (em Marabá/PA) e duas escavadeiras (em São Pedro da Água Branca/MA) estão retidos por determinação judicial e que a Vale é apenas fiel depositária dos bens.

Com relação ao e-mail que teria sido enviado por um funcionário da Vale sugerindo cobrança de propina das empresas contratadas, Luiz Landeiro informou que a empresa está apurando a veracidade do fato. “Estamos apurando. A Vale não compactua com esse tipo de procedimento. Se confirmada a denúncia, iremos tomar as medidas cabíveis”, garantiu.

 

(Fonte: O ESTADO DO MARANHÃO, Ed. 17.728, Economia – pág. 01)

 

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